Quando se desce devagarinho nem se percebe o quanto se desceu

É curioso como, olhando para trás, tudo se degradou a um ponto impensável há 10 ou 15 anos atrás.

Vamos perdendo a pouco e pouco capacidade de impor os nossos direitos mas de uma forma tão suave que parece que nada muda. Como uma pedra que vai rebolando pela areia e que ao fim de uns tempo ficou sem qualquer aresta viva. Ficou suave e rolada.

O curioso é que neste país, este nivelamento por baixo tem o apoio de uma parte da sociedade. A que está em baixo. Que vê a que está mais acima como um lote de privilegiados que afinal deviam ser tão sofredores e tão explorados como os outros.

Com este "apoio", que muitas vezes não passa  de inveja mesquinha, os governos lá vão cortando aqui e acolá até só ficar alguma coisa para a elite que decide. E que decide em seu próprio favor.

Um exemplo recente ilustra bem esta pressão para tornar todos uns desgraçados.

O caso do pagamento aos professores por cada correcção de exames nacionais.

Muitos dos que acham muito bem a directiva do Governo dizem que fazem horas a mais e que não são pagas, deduzindo por isso que ninguém as deveria receber.

O exceder as horas de trabalho semanal sem receber uma compensação por isso, não só é estúpido como é também ilegal.

Essa compensação pode ser feita de muitas formas. Dias de descanso, pagamento adicional pelas horas de trabalho ou, como em algumas empresas privadas, com reflexo numa melhor avaliação anual e um eventual bónus.

Mas como há aqueles que não têm acesso a nada disto e lhes parece mal que os outros tenham, cada vez mais as empresas exigem uma dedicação TOTAL em troca de nada.

O argumento de que já pagam bem ou de que há mais gente que gostaria de ter o nosso lugar é comum e leva a um sentimento de medo que silencia qualquer réplica.
E muitas vezes vão ainda mais longe "exigindo" esforço durante os fins de semana ou fora do horário de trabalho. Em troca de nada.

Parece que já não basta trabalhar bem em troca do salário. É preciso também ter vergonha de exigir um tratamento justo.

Este nivelamento na mediocridade tem efeitos perversos.
Deixa de haver candidatos para a PSP porque são estupidamente mal pagos, deixamos de ter os bons alunos a ir para professores porque essa carreira perdeu o prestígio e o reconhecimento.
Temos gente que não passou de um aluno mauzito no secundário, que teve de tirar um cursinho manhoso numa privada a comparar-se com pessoas de muito maior qualidade académica e que se esforçou para ser alguém.
Como se tudo fosse igual.

Do ponto de vista de quem paga isso é perfeito. Com a bênção dos medíocres conseguem-se passar leis que nivelam tudo por baixo.
Os medíocres continuam a sê-lo, mas agora ficam muito mais satisfeitos porque conseguiram que todos os outros já não se diferenciem pelo que ganham ou pelo prestígio da sua função.

Finalmente acreditam que são todos iguais, Iguais aos piores.

Quando todos  estiverem numa situação em que não podem dedicar tempo à família (ou sequer tê-la), não puderem comprar uma casa porque saltitam entre empregos precários e não puderem planear minimamente o seu futuro teremos um colapso social total.
Iremos extinguir-nos como sociedade e como país. A natalidade em queda já é um reflexo disto.

A incapacidade de lutarmos pelos nossos direitos é evidente.
A reivindicação deu lugar ao silêncio. Os que reivindicam são apelidados de comunas por aqueles que acham que o sistema em que vivemos e que produz miséria em quantidades industriais, é o melhor possível.

Muitas das vezes pensam que a miséria é só para os outros. Acham que um dia se vão poder passear de descapotável com uma jeitosa no banco do lado, chegar à sua moradia minimalista e ligar o seu mega painel de LCD para disfrutar de um bom filme enquanto fazem "negócios" pelo telemóvel. Negócios, investimentos, coisas...
Mas pelo andar da carruagem, não vão ter nada disto. Comprar carros a crédito já deu o que tinha a dar, as jeitosas querem ser modelos "famosas" e preferem quem possa pagar os vícios, e no T0 em Massamá não cabe uma televisão com mais de 19 polegadas.
Mas a falta de consciência social, empatia e ideais vai impedir esta geração de lutar por alguma coisa. O individualismo exacerbado que se apossou da geração dos 20 e muitos, 30 e poucos impede que possam mudar alguma coisa.

As esperanças que tivemos com a liberdade, a esperança de ser um país ao nível de uma Alemanha ou de um país nórdico perdeu-se. Ficaram o emprego precário, as dívidas, o deficit e a austeridade.

Receio bem que já não seja na minha vida que eu veja este país ser aquilo que nunca foi - um país de jeito para todos. Estivemos perto, deram-nos todas as oportunidades mas, muito à portuguesa, estafámos o dinheiro todo em festa e fogo de artificio e fica agora o trabalho de apanhar as canas...
Continuamos a ser parte da Europa. Só que agora somos a parte menos nobre da sua anatomia, se é que me faço entender.

O campeonato dos miseráveis

Quantos pobres conheces tu e quantos pobres conheço eu?

Este é o concurso que dá pelo nome de eleições presidenciais.

Fernado Nobre viu uma galinha a fugir perseguida por um miúdo que lhe queria tirar o que ela levava no bico para poder comer (se eu tivesse tanta fome assim nem queria saber do que ela levava no bico... despachava a galinha e não se falava mais nisso). Não é político. Não faz parte dessa corja que rouba os pobres e não se preocupa com eles.

Francisco Lopes mais do que conhecer pobres, foi ele próprio um deles. Tão pobre foi que ficou comunista. Pensou que um dia ia tirar aos ricos e dar aos pobres. O facto de os ricos passarem a ser pobres não o apoquenta. Também não é politico. Ou melhor, é mas "em bom". Tem o mérito de querer tornar todos menos pobres. Com a excepção dos ex-ricos. Ah, e dos dirigentes também. Alguém tem de governar os pobres e evitar que apareçam ricos.

Cavaco Silva sempre falou dos pobres. Sempre teve apreço por aqueles tão pobres tão pobres que nem reflectem a luz, sendo completamente invisíveis. Por isso não os via. Tem desculpa. Nunca foi político. Aquele "curto" período em que foi primeiro ministro foi um deslize.

Manuel Alegre sempre falou de pobres na sua poesia. Nos almoços no Gambrinus com outros colegas de partido preocupados com os pobres sempre foi o que se preocupou mais. Nem o bife lhe assentava bem.Quer até um Estado Social que retire aos que ainda não são pobres para dar aos que já são. Não tem nada de político. É um anti fascista. Vive dos louros de uma luta contra um regime extinto há 36 anos. E a recompensa dessa luta recebe-a na reforma de deputado. Obrigado Manel, dou por bem empregue o dinheiro que pago de impostos para sustentar anti-fascistas.

Defensor Moura também conhece pobres. Tratou de alguns quando era médico. E ser pobre e doente bate tudo. Não é político. É um ex-medico, ex-autarca. Em Viana há poucos pobres. Emigraram para a Galiza para deixar de ser pobres.

Quem ganha?
Eu aposto no sr. da galinha. Já não basta ver pobres. É preciso vê-los em toda a plenitude da sua miséria. E um pobre a correr atrás duma galinha é uma combinação ganhadora.

Defensor de Moura também me parece bom. Mas um pobre doente não corre e como tal perde para Fernando Nobre.

Cavaco Silva sabe que existem pobres mas não os viu. Não deu por eles nem pelas galinhas. Mas deu pelos gatos e pelas lebres (se a vossa memória vai até 1987 percebem o que ele viu). Só sabe que quando foi primeiro ministro as galinhas começaram a ser importadas... congeladas e sem bico. Sabe que os pobres andam aí e está constantemente a chamar-nos a atenção para isso, não vamos nós passar pelo que ele passou - não os ver...

Manuel Alegre já não vê pobres há uns tempos. Mas vê galinhas. E corvos. E os corvos olham para ele e emitem uns sons nada reconfortantes. Fica-se com a sensação de enterro...

E Viva Portugal

A assembleia-geral da Associação Sindical dos Juízes Portugueses decidiu apresentar queixa contra o Governo português ao Conselho da Europa pela alteração do Estatuto dos Magistrados Judiciais.

De cada vez que uma noticia sobre os magistrados do MP ou Judiciais aparece num jornal on line, logo começa uma enxurrada de comentários mais ou menos dementes a desancar na arrogância dos juízes, nos seus principescos ordenados ou na sua "manifesta" preguiça.

Começo a ficar farto deste imediatismo aparvalhado, e triste com a constatação de que o nosso povo é realmente estúpido e impeditivo de que este país seja algo de jeito.
E não estou a falar do simplório inculto, porque esse ainda é respeitador, mas do chico esperto que embarca em toda e qualquer campanha de propaganda que lhe queiram servir pela garganta abaixo. Que do fundo da sua profunda ignorância acha que sabe tudo e que pode permitir-se opinar sobre tudo.
O típico espertalhoco que arranja esquemas para não pagar IVA e que brada porque os outros fogem aos impostos. O tal que trabalha o mínimo possível nem justificando o salário e que acha que os outros todos ganham demais. O palerma que começa a discutir a bola ao sábado, faz uma pausa na terça feira e continua até à quinta feira seguinte. O palerma que era um calão na escola e foi passando pela alergia que o ministério tem às reprovações e que não concebe que haja gente mais esperta, capaz esforçada e inteligente do que ele. É desse "palerma" que estou a falar. O que comenta os artigos de jornal e diz coisas como "deviam era ser todos mortos" o que revela não só limitações na gramática, mas também o perigo que seria ter gente dessa no poder.
O tipo de palerma que acha que se é testemunha de uma das partes (não da verdade). Que mente em tribunal com todos os dentes que tem na boca e que fica fulo se o juíz o expõe como um mentiroso e que acha que os do seu "partido" são todos umas flores e os do outros partidos são todos uns criminosos.
E que é tão palerma ignorante e estúpido que vota num partido sem fazer ideia do que ele defende. Para ele a política é como o futebol. E como é estúpido até ao osso em relação ao futebol, claro que também o é no que diz respeito à política.

E, infelizmente, há uma quantidade incrível deles neste país...

Este governo e este partido tiveram como alvo preferencial, desde que chegaram ao poder, a justiça. Por uma questão de vingança e por precaução em futuros casos, resolveram despojar o estado de direito de um dos pilares fundamentais - a justiça.
E com o aplauso destes acéfalos facilmente manipuláveis, teve um apoio calculado desde o primeiro momento. A campanha de desinformação acerca das férias judiciais foi o primeiro passo. Nunca os juízes e funcionários judiciais estiveram em pé de igualdade nesse debate. Insinuou-se que eles tinham 3 meses de férias e foi ver o povão a bradar pelas suas cabeças. Sócrates deve ter ficado com um sorriso de orelha a orelha e com a sensação (confirmada) de que podia usar esta estratégia até à exaustão com o povo estúpido que se lhe oferecia de mão beijada.

Veio depois o ataque à independência dos juízes e do MP. A sua subordinação factual (não formal) ao poder executivo. Assim, casos "delicados" como os que envolveram Sócrates acabam por nunca ver um devido castigo.

E é aqui que a dualidade dos estúpidos me deixa estupefacto. E confirma as minhas suspeitas - São realmente estúpidos.

Por um lado criticam os juízes e magistrados do MP (a maior parte nem distingue, só pensa na figura do juiz) por deixarem à solta "estes criminosos" mas por outro lado não percebem que estes actos do governo visam precisamente coartar aqueles que ainda têm alguma independência e rectidão e evitar que eles possam por estes "criminosos" por detrás das grades.

O governo trata a justiça como algo de secundário dando sempre a entender que o problema está nos agentes últimos da justiça (os magistrados) ao mesmo tempo que às claras lhes limita a independência de todas as formas possíveis, que os faz trabalhar em condições que levariam a Inspecção Geral do Trabalho a fechar uma fábrica nas mesmas condições, nem sequer assegurando os mínimos serviços dum tribunal (falta dinheiro para pagar telefones mas compram-se blindados para "malhar" nos "eventuais" manifestantes da cimeira da NATO).

As prioridades são claras. E o facto de a justiça não ser uma prioridade demonstra qual é de facto a prioridade em relação à justiça.

O povão estúpido embarca depois na demagogia e populismo fácil de um governo que tem nos juízes um alvo fácil.
Ninguém gosta do poder. Ninguém gosta de um chefe que lhe dê ordens ou de um juiz que exponha uma testemunha mentirosa ou que imponha uma sentença a um vigarista. E acreditem que vigaristas há aos milhares. Os que não pagam o que devem, os que interpretam contratos de maneiras muito sui generis, os que vivem de esquemas etc etc.
Mas ao contrário do médico que tem "poder" e que é visto como um salvador, o juiz é um malandro que obriga as pessoas a fazer aquilo que não querem fazer de livre vontade ou a fazer cumprir a mais básica ética e educação.
Os juízes são um alvo fácil e a crise é um excelente argumento para fazer aquilo que em condições normais seria impossível de fazer. Subordinar um dos pilares do estado de direito ao outro do qual seria supostamente independente.
E a Assembleia da República? Bem, essa faz o que sempre fez - nada. Fica a ver. A maior parte dos deputados nem percebem o que está em jogo e os que percebem precisam do ganha pão.
Gente com alguma rectidão moral como o Secretário de Estado da Justiça saem por não querer pactuar com isto. Outros, como José Magalhães (o tribuno mercenário digital), ou o arremedo de anti fascista que é o Ministro da Justiça, ficam a fazer o que sempre fizeram - porcaria e perpetuação no aparelho de Estado.

O que é triste é vermos depois generalizações e insultos a toda uma classe e a aprovação do "povo" de todas as tropelias que se possam fazer com uma classe profissional de elevada formação, capacidade de trabalho e sobretudo reservada e consciente das suas obrigações.

Repugna-me pensar no povo que temos. Que se deixa levar como um rebanho de carneiros em troca de uns minutos de satisfação por ver os "poderosos" ser achincalhados publicamente. E não os poderosos que merecem, mas sim uns quaisquer. Pensa estupidamente (como só os estúpidos conseguem) que sai a ganhar alguma coisa com a situação. Na verdade vai perder. Vai perder quando uma acção "dele" contra o amigo dum qualquer membro do partido de circunstância, for decidida em favor da outra parte de forma incompreensível. Ou quando mais um politico corrupto mandar destruir provas incriminatórias. E aí vai culpar quem? Os juízes, pois claro. É como culpar um tipo de mãos amarradas e com uma pedra presa aos pés de se ter afogado.

Estupidamente vingativo, estupidamente gastador, estupidamente incapaz de fazer um raciocínio, estupidamente estúpido.

Aí tens povo... Tu que votaste em Sócrates por duas vezes, que bradaste contra a justiça quando Carlos Cruz foi preso, que berraste quando o caso Freeport veio a lume, que achas normal que se passem diplomas ao Domingo em papel timbrado com telefones que só se usaram anos depois, quando Ferro Rodrigues disse que se estava a "cagar" para o segredo de justiça, aí tens a porcaria que fizeste.
O meu bem haja e o bem haja do Portugal que ainda usa o cérebro.

PS: É gente integra como esta que tutela a justiça em Portugal. O que acham vocês que este Sr. secretário de Estado pensa do tribunal que ordenou a demolição? I rest my case

Arrábida. Mulher de José Magalhães surpreendida com demolição

O fundo...

Fascinante!!

É o que me ocorre dizer desta brilhante ideia de criar um fundo para "ajudar" os empresários a pagar as indemnizações por despedimento dos seus empregados.
E que melhor maneira de fazer isto do que por os empresários que não despedem a contribuir para um fundo que paga os que despedem?

Atenção porque nos que não despedem há um pouco de tudo
  • Os que são fantásticos e recompensam os seus trabalhadores o suficiente para os manter motivados ao longo de anos. Aqueles que acham que as pessoas não se reduzem apenas ao preço que custam
  • Aqueles que são tão beras que as pessoas se despedem porque já não os podem ver mais
  • Aqueles que são tão incompetentes que afundam qualquer empresa e os trabalhadores, perante a catástrofe anunciada, tentam navegar para águas melhores.
Mas não deixa de ser notável que se introduza este factor de "justiça" em que o empresário que nada faz para despedir um trabalhador tenha de pagar os despedimentos dos outros...
Creio que esta solidariedade no despedimento não vai lá resultar muito bem...

Mas claro que já se começou a falar de plafonamento das indemnizações. Uns 3 dias por mês, o que vai dar 36 dias por ano. Pelas minhas contas isto não é muito diferente do que se tem hoje.

Só pode haver um catch... E é o facto de quem vai gerir este fundo ser o Estado. E como sabemos até que ponto os seus "gestores" são pessoas de "bem", não tarda muito veremos esse fundo ser incorporado numa qualquer caixa de pensões ou, o mais certo, é que quando esse fundo for necessário não tenha um tostão para pagar a ninguém.

E quem pode recorrer a esse fundo? Os que rescindem de mutuo acordo? os que se vêm na rua com direito a indemnização depois da empresa em que trabalham ir à falência por absoluta estupidez ou gestão danosa dos empresários?

Há dias um caso de uma empresa de "recursos humanos" que fornece mão de obra para os call centers da EDP e PT declarou falência.
Agora pergunto:
Como é possível que uma empresa com 3 ou 4 mil trabalhadores a quem fica com uma parte do que a empresa contratante paga por eles, ir à falência? Gestão primorosa sem dúvida.
Além de ser moralmente indefensável viver parasitando o trabalho mal pago dos outros e absolutamente incrível o nível de incompetência que é preciso ter para conseguir tal façanha.
Quantos trabalhadores precisavam de ter para pagar a um gestor? 500? Notável de facto. E estes 3 ou 4 mil como estavam em regime de prestação de serviços não levam nem um tostão mesmo que trabalhassem para essa empresa há anos a fio.
E ainda dizem que as nossas leis de trabalho são restritivas. Num país civilizado empresas destas eram fechadas pela inspecção do Trabalho no 1º dia. Mas cá convém a parasitas e contratantes que pagam misérias a pessoas que passam o dia sentados a fazer aquilo que nenhum "gestor" ou "director" seria capaz de fazer - gramar clientes 8 horas por dia e a ter tempos limite para o atendimento.
Recebem à chamada. Se não despacharem o cliente rapidinho começam a não ser rentáveis.

Esta medida canhestra a pedido da "Europa" (bela trampa de continente em que se converteu depois das conquistas do pós guerra. Parece que ficam contentes em transformar o Continente mais avançado em conquistas sociais numa nova China ou Índia.
Estão quase. Um dia destes só há luxo absoluto e esgoto. Nada pelo meio. A Índia é assim há séculos e a China também. O Brasil tenta deixar de ser.

Na verdade isto não se percebe. Percebe-se é que as associações patronais já estão todas contentes a pensar que se vão por na rua os trabalhadores mais antigos (e mais caros de despedir) para serem substituídos por outros mais baratos e com menos direitos.

Parece-me que os trabalhadores e os empresários vão ter uma surpresa com este belo fundo quando for preciso recorrer a ele...
Pode muito bem acabar por ser mais um imposto encapotado cuja receita vai servir para outros fins.

Mas aposto convosco que o dito plafonamento  não vai afectar os "amigos" que fazem contratos com clausulas de rescisão principescas mesmo que só trabalhem uns meros 6 meses numa empresa.
Casos como o de Mira Amaral na CGD e a sua reforma obscena (18.156 euros mensais desde 2004, aos 56 anos de idade, por ter estado 18 meses na CGD) vão continuar a acontecer e provavelmente pagos por outras empresas que além de pagar os impostos vão agora sustentar mais isto.
Se regulamentarem e pensarem isto como pensaram as portagens pagas nas SCUTS vai ser um estrondoso sucesso.
Há qualquer coisa que me diz que foi ainda pensado com mais ligeireza. E esta gente quando se deita a pensar tem uma forma de ver as coisas tão distorcida e superficial (ou desonesta que é o mais provável) que saem verdadeiros abortos legais e medidas impossíveis de implementar.

Se isto não é o "fundo" não sei o que resta escavar. Já chagamos ao núcleo e ainda continuamos.

Pela vossa saúde, ponham estes tipos na rua nas legislativas de Maio ou Junho de 2011. Pela vossa rica saúde...

O Perfil de Cavaco Silva

O perfil de Cavaco Silva visto da direita. Não deve ser muito diferente daquele que é visto da esquerda.
Portugal em pano(s) de fundo e um presidente imóvel...

EDP - Salários da Administração não são pagos pelos clientes

António Mexia dizia ontem na SIC que os salários a administração não são pagos pelos clientes da EDP.

Empresa curiosa esta...

Normalmente uma empresa paga a sua massa salarial, os seus investimentos os juros das suas obrigações bancárias as facturas dos fornecedores etc etc, com aquilo que vem da sua facturação. No fim sobra uma coisa chamada margem de lucro que é tributada em sede de IRC.
Na EDP não.
Existe uma parte da empresa que funciona assim, mas uma outra que vive num mundo paralelo em que os salários do conselho de administração caem do céu. E caem em grandes pacotes de notas e entre elas vem um envelopezinho com um cartão de crédito platina com um plafond razoável (sim, porque esta gente tem de manter o nível e não se lhes pode dar um plafond de 1000 euros por mês. Isso seria degradante).

Ao perceber isto cheguei à única conclusão possível. A administração é paga por Deus. Em Euros.
Assim se explica o bónus que Mexia recebeu pelo trabalho que os outros fizeram, ou até pelo simples facto de os consumidores não poderem trocar de fornecedor. Ao cair de céu, este dinheiro não é gasto por ninguém.

Isto contraria completamente o que eu meu pai me dizia: O dinheiro não cai do céu

Esta revelação não só pôs em causa todas as minhas convicções do tempo da juventude, como me coloca num sério dilema:

Devo eu educar os meus filhos da mesma forma que o meu pai me educou?
Ou devo ensinar-lhes o que agora aprendi?

Afinal António Mexia está numa posição da escala social que o meu pai não atingiu e portanto deve ter razão.
Por outro lado, ao contrário de Mexia, o meu pai sempre se pautou pela honestidade intelectual (e não só) e sempre lutou pelo que teve. Eu a seguir a ele também acabei por perceber que o dinheiro para mim não cai do céu.

Concluo que o que pode ser, e isto é de certeza o que se passa, é que os salários mais baixos não caem do céu. Deve haver uma espécie de limite celestial a partir do qual o dinheiro cai lá de cima.

E a julgar pelo que se passa em muitas empresas, deve haver de facto um limite a partir do qual o dinheiro cai do céu.
Assumindo que as facturas dos clientes já são tão baixas quanto possível e que delas não sai nadinha para pagar os salários mais altos, então esse dinheiro cai do céu.
Penso mesmo que a culpa de muitos salários nestas empresas serem baixos é nossa - dos clientes.
Se nós pagássemos mais pelos serviços, as empresas já poderiam pagar mais aos trabalhadores que ganham menos. 

Assim em vez de bradar contra as injustiças que acontecem com as diferenças salariais nas empresas, devíamos propor-nos a pagar ainda mais para suportar melhores salários para aqueles que ganham pouco dentro dessas empresas.

O resto, os salários altos das administrações, já vem do céu.
Este sistema de gritar para o céu a pedir "notas" explica os aumentos e os bónus que acontecem sem ninguém saber porquê. Os caminhos de Senhor são insondáveis...

Uma vez que existe intervenção divina neste processo e em face desta verdade insofismável só me resta deixar um pedido:

Deus,
da próxima vez que mandares um fardo de notas para pagar à administração da EDP, por favor afina a pontaria e vê lá se acertas com o fardo de notas nos cornos de algum. Pode ser o Mexia. Sugeria até que, em vez de notas, mandasses um saco grande com moedas de 50 Cêntimos. Ou vários. Um por cada membro do conselho de administração seria excelente.

PS. A juntar ao salário junta também as moedas correspondentes aos bónus. Nunca é demais assegurarmo-nos que os sacos têm o peso adequado...

As vitimas inocentes

Até há bem pouco tempo pensava que sabia quem eram - nós, o povo português, pagador de impostos que vê todos os dias as regras mudar em relação ao seu futuro, aos seus impostos, à sua reforma e ao futuro dos seus filhos.
A coisa parecia simples e fácil - as vitimas somos nós.

Mas começo a mudar de opinião. Depois de ver representantes do governo e do Partido Socialista desfilar na TV as razões de tudo isto, começo a pensar que as vitimas são "eles".

Com toda a retórica barata que têm usado nestes últimos tempos para justificar o estado em que estamos, começam a convencer-me de que são apenas vitimas das circunstâncias.

Ou talvez não...

Senão vejamos:
Estão no governo há 6 anos. Desde o início e a pretexto de uns tais 6.73% de deficit atiraram-nos logo para cima com uma aumento de impostos. Havia que acertar as contas do deficit.
Mas ao mesmo tempo começava um desbarato de dinheiro na administração pública sob a forma de lugares bem pagos em organismos feitos à pressa para meter uns quantos amigos. PPP's, empresas municipais, outsourcings assessorias, ajustes directos foram a imagem de marca destes 6 anos de governo.
A fazer fé nos 2 e tal por cento de deficit a que se chegou, eu diria que sem muita desta loucura e com o aumento da receita fiscal, em condições normais, teríamos tido um superavit orçamental.
Sem o desbarato louco que consumiu grande parte da receita extra, provavelmente estaríamos  hoje numa excelente situação.
Mas a verdade é que "a crise internacional causou isto tudo".

Ou talvez não...

A verdade é que a economia estava completamente estagnada bem antes da crise bater. E ao contrário de países em que a banca se enterrou em activos tóxicos (Irlanda, Espanha, Islândia) nós apenas chegamos a esta situação porque um estado completamente desvirtuado nega a toda a economia uma hipótese de crescimento saudável.
A verdade é que a catástrofe já vem de muito antes de 2008. A crise só acentuou esta letargia causando despedimentos em empresas que exportavam ou que eram filiais de multinacionais. O aumento do desemprego encarregou-se de aumentar a despesa do estado a ponto de começar a desequilibrar as contas.

Mas mesmo assim se persistiu no aumento da receita, ao mesmo tempo que com a desculpa de fomentar a economia através do investimento público, se fizeram mais contratos ruinosos que serão pagos dentro de alguns anos e que irão causar um sério impacto no orçamento (estejam ou não essas verbas inscritas no OE, porque o dinheiro para as pagar tem de vir de algum lado).

Agora as pobres "vitimas" do partido socialista alternam entre o discurso duro de quem descobriu uma crise nacional com a qual nada tem a ver (Teixeira dos Santos) e o discurso delico doce de Francisco Assis em que se coloca de fora de uma situação e se presta, qual herói, a ajudar a resolver com a ajuda do mui responsável e nobre PSD (nas suas palavras...)

Esta incrível falta de vergonha, talvez comparável à negação perante as evidências de alguns réus de Nuremberga, é dos exemplos mais despudorados de falta de carácter que já assisti durante a minha vida.
Não pensei que fosse possível um partido ter nas suas fileiras tantos indivíduos sem carácter alinhados com um discurso para parvos comerem.
É que nem a gente de cabeça mais simples vai nesta conversa.
Eles estavam lá quando a situação chegou a isto. Comeram da "gamela" estatal durante anos a fio e como tal são aos olhos de muito completamente culpados.
Durante uma maioria absoluta fizeram o que QUISERAM ao arrepio das mais elementares normas duma democracia. É que apesar do poder do voto maioritário a democracia não se esgota aí. Há limites éticos, morais e constitucionais que é preciso respeitar mesmo que se tenha uma maioria absoluta.
Mas para isso é preciso gente bem formada. E isso parece que é coisa que escasseia neste PS.
Digamos que eles nunca foram flor que se cheire mas ainda tiveram gente séria nas suas fileiras há uns anos atrás.
Agora parecem estar reduzidos a um grupo de meros aldrabões e burlões de aldeia que roubam aos idosos as suas pensões. E com uma desfaçatez incrível aparecem na TV a falar da situação como se tivessem chegado hoje e visto o estado em que isto está
"Ei, olha como isto está! Temos de fazer uma séria tentativa e um esforço patriótico para por isto em condições! Temos de nos unir com os partidos do arco da governação para resolver esta situação."
É como se fossem dotados de múltipla personalidade. Acabam de esfaquear um individuo e no momento seguinte olham para ele e alarmados tentam reanimá-lo e pedem a ajuda dos que passam. O assassino? Esse nem sabem quem é. Nem o viram.

E alternam entre isto e a arte de fazer contas como débeis mentais. O abrandamento da despesa a mais é das coisas mais hilariantes que vi um secretário de estado fazer. O raciocinio é digno de um QI de 20.
Se o orçamento mensal fosse de 1000 por mês, teriam ultrapassado 3.5 em Setembro (+35) e apenas 2 por cento em Outubro (+20) e no fim tudo ficará bem. Ou seja, têm dois meses para baixar 5 e tal por cento para ficar em linha com o Orçamento.
O problema é que não ultrapassaram só em Setembro e Outubro e segundo eles tem vindo a abrandar. Não é de estranhar que tenham um acumulado bem maior que 5% que vão ter de saldar em 2 meses.
Mas isto segundo eles não é descontrolo. Afinal está a abrandar.

Eu não creio que toda esta gente seja imbecil. Não é possível.
Apenas aprenderam a viver num sistema em que para trepar é preciso fazer favores de um lado e de outro. Ser bajulador, vender-se como o melhor do mundo.
Eles não são estúpidos. Acham apenas que basta o seu estratagema. Esquecem que é preciso competência. E tenham-na ou não, não vemos as suas manifestações exteriores.
O que vemos é um conjunto de acções desgarradas, que desafiam a lógica e que levam a pensar que as decisões são tomadas por interesses que nada têm a ver com o interesse público.
Alguns destes pobres ministros são académicos de algum gabarito. Gente que lecciona e formou gerações que lhes seguiram.
Não sei se não é de nos deixar ainda mais preocupados. É que estas pessoas que vemos hoje até à exaustão manifestar uma total incompetência, incapacidade de decisão e desfasamento total da realidade, andaram a formar universitários durante anos. Como se já não bastasse a estupidez natural de muitos delfins imberbes da nossa praça, ainda tinham que ter sido formados por gente deste calibre.

A perpetuação da mediocridade é inevitável. Os mediocres tendem a expulsar do meio deles quem os pode desmascarar como sendo medíocres. Por isso na politica partidária, nas J's ficam os alunos que normalmente são uns zeros academicamente. Que passaram toda uma vida pelas associações de estudantes a "brincar" aos politicos.

A mediocridade que vemos nos nossos governantes começou com a minha geração. A geração que apanhou o 25 de Abril no inicio da sua adolescência ou no fim da sua formação académica. E eles aí estão, formados em retórica, sem nunca terem criado nada, a viver toda uma vida adulta em lugares de "chefia" que por mérito nunca alcançariam. A decidir o futuro e a julgar a competência dos outros.
Nos "entretantos" vai-se ao congresso partidário apoiar o vencedor. Isso garante mais uns lugarinhos por uns anos quer o partido esteja no governo quer esteja na oposição.
Foram nossos colegas.
Eram umas tretas como colegas e como pessoas.
Eram uns alunos bem chochos e nunca deixaram de ser o que são. Uns zeros. Meros papagaios regurgitando retórica distorcida e dotados duma desonestidade intelectual que uma pessoa normal e decente teria muita dificuldade em atingir.

E depois admiram-se que os portugueses emigrem à razão de 70.000 por ano?