As vitimas inocentes

Até há bem pouco tempo pensava que sabia quem eram - nós, o povo português, pagador de impostos que vê todos os dias as regras mudar em relação ao seu futuro, aos seus impostos, à sua reforma e ao futuro dos seus filhos.
A coisa parecia simples e fácil - as vitimas somos nós.

Mas começo a mudar de opinião. Depois de ver representantes do governo e do Partido Socialista desfilar na TV as razões de tudo isto, começo a pensar que as vitimas são "eles".

Com toda a retórica barata que têm usado nestes últimos tempos para justificar o estado em que estamos, começam a convencer-me de que são apenas vitimas das circunstâncias.

Ou talvez não...

Senão vejamos:
Estão no governo há 6 anos. Desde o início e a pretexto de uns tais 6.73% de deficit atiraram-nos logo para cima com uma aumento de impostos. Havia que acertar as contas do deficit.
Mas ao mesmo tempo começava um desbarato de dinheiro na administração pública sob a forma de lugares bem pagos em organismos feitos à pressa para meter uns quantos amigos. PPP's, empresas municipais, outsourcings assessorias, ajustes directos foram a imagem de marca destes 6 anos de governo.
A fazer fé nos 2 e tal por cento de deficit a que se chegou, eu diria que sem muita desta loucura e com o aumento da receita fiscal, em condições normais, teríamos tido um superavit orçamental.
Sem o desbarato louco que consumiu grande parte da receita extra, provavelmente estaríamos  hoje numa excelente situação.
Mas a verdade é que "a crise internacional causou isto tudo".

Ou talvez não...

A verdade é que a economia estava completamente estagnada bem antes da crise bater. E ao contrário de países em que a banca se enterrou em activos tóxicos (Irlanda, Espanha, Islândia) nós apenas chegamos a esta situação porque um estado completamente desvirtuado nega a toda a economia uma hipótese de crescimento saudável.
A verdade é que a catástrofe já vem de muito antes de 2008. A crise só acentuou esta letargia causando despedimentos em empresas que exportavam ou que eram filiais de multinacionais. O aumento do desemprego encarregou-se de aumentar a despesa do estado a ponto de começar a desequilibrar as contas.

Mas mesmo assim se persistiu no aumento da receita, ao mesmo tempo que com a desculpa de fomentar a economia através do investimento público, se fizeram mais contratos ruinosos que serão pagos dentro de alguns anos e que irão causar um sério impacto no orçamento (estejam ou não essas verbas inscritas no OE, porque o dinheiro para as pagar tem de vir de algum lado).

Agora as pobres "vitimas" do partido socialista alternam entre o discurso duro de quem descobriu uma crise nacional com a qual nada tem a ver (Teixeira dos Santos) e o discurso delico doce de Francisco Assis em que se coloca de fora de uma situação e se presta, qual herói, a ajudar a resolver com a ajuda do mui responsável e nobre PSD (nas suas palavras...)

Esta incrível falta de vergonha, talvez comparável à negação perante as evidências de alguns réus de Nuremberga, é dos exemplos mais despudorados de falta de carácter que já assisti durante a minha vida.
Não pensei que fosse possível um partido ter nas suas fileiras tantos indivíduos sem carácter alinhados com um discurso para parvos comerem.
É que nem a gente de cabeça mais simples vai nesta conversa.
Eles estavam lá quando a situação chegou a isto. Comeram da "gamela" estatal durante anos a fio e como tal são aos olhos de muito completamente culpados.
Durante uma maioria absoluta fizeram o que QUISERAM ao arrepio das mais elementares normas duma democracia. É que apesar do poder do voto maioritário a democracia não se esgota aí. Há limites éticos, morais e constitucionais que é preciso respeitar mesmo que se tenha uma maioria absoluta.
Mas para isso é preciso gente bem formada. E isso parece que é coisa que escasseia neste PS.
Digamos que eles nunca foram flor que se cheire mas ainda tiveram gente séria nas suas fileiras há uns anos atrás.
Agora parecem estar reduzidos a um grupo de meros aldrabões e burlões de aldeia que roubam aos idosos as suas pensões. E com uma desfaçatez incrível aparecem na TV a falar da situação como se tivessem chegado hoje e visto o estado em que isto está
"Ei, olha como isto está! Temos de fazer uma séria tentativa e um esforço patriótico para por isto em condições! Temos de nos unir com os partidos do arco da governação para resolver esta situação."
É como se fossem dotados de múltipla personalidade. Acabam de esfaquear um individuo e no momento seguinte olham para ele e alarmados tentam reanimá-lo e pedem a ajuda dos que passam. O assassino? Esse nem sabem quem é. Nem o viram.

E alternam entre isto e a arte de fazer contas como débeis mentais. O abrandamento da despesa a mais é das coisas mais hilariantes que vi um secretário de estado fazer. O raciocinio é digno de um QI de 20.
Se o orçamento mensal fosse de 1000 por mês, teriam ultrapassado 3.5 em Setembro (+35) e apenas 2 por cento em Outubro (+20) e no fim tudo ficará bem. Ou seja, têm dois meses para baixar 5 e tal por cento para ficar em linha com o Orçamento.
O problema é que não ultrapassaram só em Setembro e Outubro e segundo eles tem vindo a abrandar. Não é de estranhar que tenham um acumulado bem maior que 5% que vão ter de saldar em 2 meses.
Mas isto segundo eles não é descontrolo. Afinal está a abrandar.

Eu não creio que toda esta gente seja imbecil. Não é possível.
Apenas aprenderam a viver num sistema em que para trepar é preciso fazer favores de um lado e de outro. Ser bajulador, vender-se como o melhor do mundo.
Eles não são estúpidos. Acham apenas que basta o seu estratagema. Esquecem que é preciso competência. E tenham-na ou não, não vemos as suas manifestações exteriores.
O que vemos é um conjunto de acções desgarradas, que desafiam a lógica e que levam a pensar que as decisões são tomadas por interesses que nada têm a ver com o interesse público.
Alguns destes pobres ministros são académicos de algum gabarito. Gente que lecciona e formou gerações que lhes seguiram.
Não sei se não é de nos deixar ainda mais preocupados. É que estas pessoas que vemos hoje até à exaustão manifestar uma total incompetência, incapacidade de decisão e desfasamento total da realidade, andaram a formar universitários durante anos. Como se já não bastasse a estupidez natural de muitos delfins imberbes da nossa praça, ainda tinham que ter sido formados por gente deste calibre.

A perpetuação da mediocridade é inevitável. Os mediocres tendem a expulsar do meio deles quem os pode desmascarar como sendo medíocres. Por isso na politica partidária, nas J's ficam os alunos que normalmente são uns zeros academicamente. Que passaram toda uma vida pelas associações de estudantes a "brincar" aos politicos.

A mediocridade que vemos nos nossos governantes começou com a minha geração. A geração que apanhou o 25 de Abril no inicio da sua adolescência ou no fim da sua formação académica. E eles aí estão, formados em retórica, sem nunca terem criado nada, a viver toda uma vida adulta em lugares de "chefia" que por mérito nunca alcançariam. A decidir o futuro e a julgar a competência dos outros.
Nos "entretantos" vai-se ao congresso partidário apoiar o vencedor. Isso garante mais uns lugarinhos por uns anos quer o partido esteja no governo quer esteja na oposição.
Foram nossos colegas.
Eram umas tretas como colegas e como pessoas.
Eram uns alunos bem chochos e nunca deixaram de ser o que são. Uns zeros. Meros papagaios regurgitando retórica distorcida e dotados duma desonestidade intelectual que uma pessoa normal e decente teria muita dificuldade em atingir.

E depois admiram-se que os portugueses emigrem à razão de 70.000 por ano?