Facebook - Praga ou benção?

Devo confessar que sinto muito pouco apelo pelo Facebook.

Criei uma conta e comecei a procurar amigos. De facto encontrei alguns que já não contactava há algum tempo. Mas na maior parte dos casos os que ficaram na lista estavam a meros metros de mim.

Aquilo pareceu-me um bocado escusado. Na verdade preciso pouco de saber do que é que eles gostam ou não gostam. Os amigos mais próximos vejo-os pessoalmente e já sei do que gostam ou não. E se não souber, no decurso duma conversa fico a saber.

A dada altura comecei a achar que estava a ser demasiado indiscreto. Não por culpa minha mas porque devido à falta de configuração de segurança da maior parte dos intervenientes eu acabava por saber aquilo que não me fazia falta nenhuma saber.

Nem todos são experts em configurar o facebook e na maior parte dos casos a "Wall" estava cheia de inutilidades e de coisas que se calhar eles não deviam ter anunciado de megafone a toda a gente.

Rapidamente me fartei. Ter uma aplicação que me diz tudo o que se passa com os meus amigos é um bocado disparatado. Na maior parte dos casos são detalhes que nada acrescentam ao meu conhecimento das pessoas e é espaço cerebral que podia muito bem ser usado em coisas bem mais úteis.

Mas a verdade é que o facebook se tornou numa doença. Há gente a cuidar das quintas virtuais quando não consegue manter uma simples planta viva. Perdem horas por dia nos seus empregos a "cuscar" a vida que os outros lhes esfregam na cara.
Combinam coisas pelo Facebook, num mundo que tem os SMS, os telemóveis e 173 variedades de chats.

Mas serve realmente para quê? Para pouco. Para pormos na mão de quem não fazemos ideia quem é, a nossa  informação pessoal a ponto de isso poder causar transtornos sérios.
A "empresa" é conhecida pela sua falta de respeito para com os dados pessoais dos membros. A mega integração com o Facebook pode permitir que um site participante tenha acesso ao telefone e morada de quem o aceite (e sabemos que a maior parte do pessoal nem lê a mensagem no écran).

O criador do Facebook não concebe a ideia de que as pessoas possam ter informação do foro privado. Como é que com este tipo de atitude se pode esperar que a informação privada dos outros seja respeitada?

Só que, por acaso, Zuckerberg não deixa de ter alguma razão. Se nós queremos que a nossa informação seja privada vamos "espetar" com ela no site mais público da história? Ficamos expostos a um ror de coisas. A primeira das quais a nossa incapacidade de configurar o que mostramos e a quem.

Alguém dizia no outro dia que temos de aceitar que a geração pre teen de hoje possa vir a estabelecer relações com pessoas que nunca vai conhecer. E isso são relações? Os rádio amadores de outrora tinham mais interacção. Pelo menos recebiam um postal a confirmar o contacto (sim, postal.... uma coisa em papel cartonado que se mandava pelo correio para qualquer parte do mundo).

Do vazio das conversas por SMS passámos ao vazio das relações no Facebook. Não estamos muito longe do filme Surrogates em que os humanos já só interagem através de robots perfeitos e sempre jovens. O problema é que por detrás do robot pode estar uma coisa bem diferente. É um bocado triste pensar que nos remetemos ao espaço privado para nos tornarmos mais públicos que nunca. Irónico.

Percebo agora porque há gente que não possa passar sem a Internet mais que umas horas por dia. Entretanto as relações pessoais desvanecem-se completamente.

Talvez seja eu que me entusiasmo com dificuldade. Que não perceba como alguém pode comprar um telemóvel e pagar por um serviço que permita saber aos amigos em que sitio do país ou da cidade estou.
Talvez seja eu que ache intolerável que perguntem porque ainda não aceitei o pedido de amizade.

Não quero fazer vaticínios acerca do Facebook. Fiz um acerca do Second Life - que era uma treta alienante e que iria desaparecer deixando os criadores cheios de massa. Acertei em cheio.
O Facebook vai chegar a um ponto em que não tem para onde ir. Perde  a vantagem do hype da massificação e a dada altura alguém vai perceber que o mais jovem milionário do mundo vale pela informação de 500 milhões de pessoas que lhe disseram tudo acerca de si. Informação essa que ele pode vender por uma pipa de massa. E quando o fizer (e vai fazendo...) o Facebook acaba num estrondo épico.

Não se preocupem sequer em desactivar a vossa conta. A informação continuará nos servidores e pronta a ser reactivada com um simples login. As coisas mais embaraçosas ou as mais irrelevantes lá ficarão em formato digital para quem as queira retirar (não o público, bem entendido).

Como diria alguém que conheci em pessoa - Knock yourselves out till you understand how stupid it is to do it.

Fiquem com este video fantástico de gozo com o Twitter (outro dos pináculos do imediatismo inconsequente)