O professor Martelo

e as suas análises.

Pode ser por estar mais ou menos deprimido nos dias em que o ouço, mas noto que cada vez mais me encontro a discordar do que ele diz. E não é do conteúdo, mas sim da forma como tira as conclusões.

O problema parece estar na forma como Marcelo deixa transparecer uma certa arrogância ao achar que sabe como as pessoas pensam em todo e qualquer momento.

As suas análises são muito tiradas a régua e esquadro, como se todos fossem lineares, previsíveis ou movidos pelo mesmo tipo de raciocínio.

Isso faz com que a sua forma de analisar se torne parecida com os métodos quantitativos que os pobres dos americanos gostam de aplicar a tudo. Para eles tudo se reduz a números. Se não tiverem um índice ou uma métrica qualquer para analisar um fenómeno estão perdidos.

O expoente máximo desta forma de análise era a redução de tudo a uma nota que ele dava às pessoas no fim das suas dissertações.

Mas recentemente, apesar de ter perdido essa mania, começo a ver nele a incapacidade de ver nas decisões dos outros a falta de raciocínio analítico.

Para ele uma acção só pode ter uma reacção. É como se ele fosse o master pupeteer de todas as cabeças e todas as consciências. E devo dizer-vos que acho isso profundamente irritante.

Irritante e dado a falhas estrondosas de análise. Apesar do seu brilhantismo intelectual ele parece desconhecer a forma como os menos brilhantes (ou mais sabe-se lá) funcionam. Parece achar que o facto de Cavaco bocejar pode significar a perda de 1473 votos nas presidenciais, ou o facto de Nobre não saber falar lhe vai custar a posição final para Alegre.

Como diriam os nossos grandes amigos americanos - Bullshit.

Eu diria que em vez de se por a fazer esse tipo de dissertações, seria talvez altura de realmente se empenhar em dar o seu contributo para um país no qual os governantes parecem ter perdido toda a qualidade intelectual. Os seus dotes mentais seriam muito melhor aproveitados em ajudar a retirar este país do fosso em que caiu. A elaborar estratégias a médio e longo prazo para um país que não as tem há dezenas de anos.

Em vez de visualizar o que se passa à sua volta como um jogador de xadrez antecipa lances numa enorme quantidade, use esses dotes para pensar no plano A, B C e D para um país sem planos.

Calculo que se entrasse na vida política perderia muito do rendimento que obtém com a sua actividade, mas também acho que não deve andar a contar os tostões e que uma passagem por um qualquer lugar de responsabilidade seria bom.

É daquelas situações de make or break, mas pelo menos ponha as mãos onde põe a boca. Arrisque-se a ser criticado em vez de criticar.

Claro que precisamos de quem pense, mas precisamos também de quem faça. Com Marcelo a prever as consequências de uma qualquer lei não teríamos surpresas desagradáveis. O tipo de surpresas que os imbecis que nos governam parecem nunca antecipar.
Precisamos duma mente capaz de prever o que acontece se uma borboleta bater as asas em Singapura.

Vá lá professor, dê um passo em frente. Ponha-se a jeito para ser convidado. Ou repugna-lhe a ideia de ter um 1º Ministro menos brilhante intelectualmente que você? Não há muito a fazer nesse particular pois não?


PS: Aos seus comentários mais recentes dou um 13. Não está lá mas com esforço pode lá chegar.