Ainda há gente séria no PS?

Apesar da repulsa que sinto por Sócrates e pelo "seu" PS, ainda consigo ter algum apreço por algumas pessoas que militam no partido.

Algumas delas vão aparecendo na comunicação social, tão habituada a ceder às pressões e à propaganda Socretina.
Como dizia há algum tempo atrás, só agora os media se "atrevem" a dar voz aos críticos de Sócrates. Parecem antecipar o fim de ciclo e sabem que Sócrates tem as mãos amarradas e não lhes pode fazer nada.

Henrique Neto é um deles e António José Seguro é o outro.

Bem ao contrário de alguns "cata ventos" como Maria de Belém, Vitor Ramalho, Vitalino Canas ou outros membros de sub espécies rastejantes.
É este tipo de apoiantes acéfalos e intelectualmente desonestos que simbolizam para mim o que o PS tem de odioso. A subserviência ao líder.

Seguro sempre me pareceu ser alguém que pensa pela sua cabeça e não hesita em tomar atitudes de acordo com a sua consciência em vez de o fazer em função de interesses pessoais ou de proximidade aos círculos mais restritos do poder.
É comedido  na forma como defende certas medidas do executivo e sobretudo muito inteligente na forma como não fala sequer noutras.

Henrique Neto é claramente um livre pensador. Relegado para a militância de base, não se coíbe de apontar a "este" PS tudo aquilo que lhe parece errado.

E o que ele aponta não é mais do que aquilo que é evidente para todos. O assalto ao Estado e o entrincheiramento de membros e simpatizantes do partido em lugares chave da administração do país.
Esta estratégia tem levado à derrocada inexorável do Estado Português, alimentando clientelas e distribuindo o dinheiro dos contribuintes por um circulo restrito de indivíduos.

Foi com grande satisfação que li no i uma entrevista a Henrique Neto que ilustra bem a forma como o assalto às estruturas do PS foi levado a cabo por Sócrates e pelos seus acólitos.

Nesta entrevista (ver aqui) Neto aponta com extraordinária clareza a forma como Sócrates, Almeida Santos, António Costa e outros dirigentes do PS se vão co-sustentando evitando fazer as reformas que poderiam por em causa o apoio ao PS dentro da administração pública.
Não é difícil perceber que o PS e o Estado se tornaram num negócio de tráfico de influências da mais alta escala.

Curiosamente pensa da mesma forma que eu em muitíssimas questões

O PS tem algumas resistências?
Claro que tem. O próprio primeiro-ministro disse, numa reunião interna do partido, que se o partido for mexer muito no Estado está a mexer na base de apoio do PS. Honra lhe seja feita, foi muito claro. E aí o Passos Coelho tem razão. Há que dar uma volta ao Estado, porque isto é insustentável. Era preferível fazer uma reforma destas a reduzir os salários ou o subsídio dos desempregados. Eu, nas moções que fiz há cerca de dez anos, digo que é urgente acabar com os serviços paralelos ao Estado e que é urgente profissionalizar os dirigentes de topo do Estado. Isso é essencial, porque permite garantir a continuidade das políticas. Há reformas, mas não se destrói tudo o que foi feito, como tem acontecido. Isso só é possível com profissionais. Não é isso que acontece, porque foram os chefes políticos ou os amigos políticos que foram colocados em toda a administração pública. Os relatórios do Tribunal de Contas, por exemplo, são um mergulho na realidade. Qualquer pessoa percebe que estamos a caminhar para o desastre. 


O que espera de Cavaco Silva neste segundo mandato?
Não espero nada. Pelas características pessoais e por conveniência política. Não vai fazer o que fez o Jorge Sampaio, que dissolveu o Parlamento e afastou o governo. O problema vai pôr-se na Assembleia da República. É imprevisível, mas se calhar vamos viver numa paz podre.


As eleições antecipadas poderiam ser uma solução?
Acho que é impossível resolver qualquer problema com o José Sócrates à frente do poder. Nestas condições qualquer solução é melhor que a actual. Um governo PS sem José Sócrates, um governo de coligação, um governo do PSD. Ele hoje é o poder, os ministros não contam para nada. O partido não conta para nada. O que ele quer é o que se faz e o que ele quer infelizmente é quase sempre errado.


A conclusão que eu tiro é que existem pessoas de bem e pessoas que não o são em todos os partidos.
Existem dentro do PS, dentro do PSD e dos outros partidos. A generalização é sempre perigosa.

Mas também é certo que é mais provável ver os que não têm escrúpulos subir. Porque não hesitam e eliminar os outros, porque têm objectivos claros de riqueza e poder. Porque são gananciosos. Porque não têm escrúpulos, pura e simplesmente.

Não sou "socialista" mas se este homem ou alguém da estatura dele fosse o Secretário Geral do PS nesta altura, votaria nele sem hesitar por comparação a Passos Coelho.
Infelizmente não o é, e o PS de hoje vai fazer a vida negra a gente como ele dentro do partido. Os que estão ao lado do líder não querem arriscar perder a sua posição e irão manter-se com ele até ao fim. Até o PS implodir e alguém ter a consciência de que precisa de se livrar do lixo para poder sobreviver.

Aguardemos até lá. Mas entretanto leiam a entrevista porque vale a pena