A táctica... e a estratégia

Confesso que ao ler o que leio por estes dias, concluo que nunca poderia ser político.

Acho fascinante a tentativa do PS em criar remorsos de "esquerda" no partido com quem tem tido uma "caminhada" de longa data - o PCP. Uma caminhada em que sempre se pontapearam um ao outro.

Assis (o antipático de óculos, lembram-se?) acusa o PCP de ser a "muleta" do PSD conta as forças de esquerda. Assis parece apelar agora ás forças de "esquerda" com a mesma facilidade com que andou a mendigar apoio ao PSD para o OGE.
Não me espanta nada dum partido sem Norte como o PS, mas espanta-me a falta de noção da realidade e acredito que Assis tenha estado isolado do mundo nestes últimos 6 anos.


A ideia de que as políticas do PS possam ser de centro-esquerda é estonteante. O PS só adoptou políticas típicas de uma esquerda radical e equalizadora, no que diz respeito à carga fiscal, sobre os trabalhadores por conta de outrem.
Estranhamente no que diz respeito aos gastos faustosos dos gestores que nomeou terá sido francamente de direita. Ou não?

É que já não percebo nada. Tudo isto me parece bastante de esquerda, no pior que a esquerda tem.

A esquerda sempre foi conhecida por subjugar quem trabalha nivelando todos por baixo enquanto a "nomenclatura" do partido vive na abundância e no luxo. Não muito diferente do que vemos por cá.
A esquerda sempre foi conhecida por querer limitar a liberdade de expressão e até a voz dos trabalhadores (não acredito que a ausência de greves na ex URSS fosse porque os trabalhadores estavam muito felizes com a sua vida). A repressão popular em Praga e em Budapeste são do melhor que a esquerda fez em prol do povo e dos trabalhadores.
E nessa altura o PCP sempre apoiou a linha dura da URSS. Não nos esqueçamos que os mais "moderados" pós Perestroika sairam do PCP. O líder de hoje é representativo de uma forma de pensar muito consistente com 1956 (Budapeste) e com 1968 (Praga). Do lado da URSS, bem entendido...

O PS sempre interferiu de forma canhestra com o livre desenvolvimento da economia, intrometendo-se na iniciativa privada e distorcendo fortemente as regras da concorrência.
Comparando com o que foi a actuação desastrada de todos os regimes comunistas de leste que redundaram num atraso de dezenas de anos quando comparado com a Europa Ocidental, eu diria que o PS foi muito de esquerda. Tanto que o partido Comunista os devia adorar.
Sócrates considera-se amigo de Chavez. O PCP adora a forma de pensar de Chavez.

Mas o PCP não concorda com o PS. E não concorda dois motivos fundamentais.

1. Porque não foram suficientemente longe no "caminho para o socialismo"
2. Porque a "nomenclatura" não são eles

Assim, o PCP passou o tempo a acusar o PS de por em prática políticas de "direita".

Eu diria que o PS pôs em prática políticas desconexas, casuísticas e determinadas por tudo menos pela ideologia. Em suma, políticas de m****.
Limitou-se a duplicar a dívida para o dobro em 7 anos e a distribuir benesses pelos seus "amigos". Nenhuma reforma estrutural foi feita. Nem de direita nem de esquerda. Nenhuma.

A reforma da Segurança Social foi algo que se vangloria de ter feito mas não é nada que não pudesse ser feito por qualquer Governo com um estado de falência anunciada a poucos anos de distância. Põe-se o povo a trabalhar até mais tarde, reduz-se o que se lhe vai pagar quando se reformar, reduzem-se as prestações sem olhar a quem precisa e a quem não precisa,  et voilá

Isto não é uma reforma. Isto são contas de merceeiro. Uma folha de Excel lida com isto na boa. Entra X e sai Y. Se entrar X durante mais tempo e sair menos que Y durante menos tempo estamos bem. Bravo!!! Ah ministro, que coroa de glória.

Só que o PCP passou o tempo a dizer que tudo o que o PS fez estava errado.


É no mínimo natural que olhando para o estado da economia e para confiança do país e do discurso dos últimos anos, o PCP vote ou proponha uma moção de censura.

Aliás, todos os partidos com assento na assembleia o deveriam fazer. Não faz qualquer sentido que não o façam.
Por razões diferentes todos eles, mas olhando à história passada seria no mínimo estranho que uma moção de censura fosse votada contra por qualquer um deles por causa do fraseado ou de diferenças ideológicas subjacentes a um texto.

A oposição terá de perceber que o facto de manter ou por este governo para correr não pode ser determinado por quem tem mais possibilidades de vencer umas eleições. O país precisa disso. A obrigação de todos os partidos que estão na oposição é devolver a decisão ao povo.

Passos Coelho quer ver Sócrates afundar-se. Se não se afundar, o PSD não vai querer lidar com os dividendos que Sócrates pode tirar do facto de "ter evitado" a entrada do FMI.

Sócrates é suficientemente desonesto para o fazer. As culpas são da crise mas os méritos serão sempre dele. Se a oposição espera demais pode muito bem ter de enfrentar um PS reanimado quando já estava dado como morto.
E este PS reanimado é um Sócrates reanimado e isso seria mortal para o país.

Uma votação para por Sócrates fora passou a ser um desígnio Nacional, muito para lá das estratégias delineadas ou das tácticas de momento.
Isto já não é uma questão de esquerda ou direita. É uma questão da sobrevivência de Portugal como país.

Deixem-se de m**** e façam a vossa obrigação.