Nada por escrito. Isso nunca...

Quando rebentou o escândalo com os eleitores que tentaram saber onde podiam votar nas presidenciais, percebi imediatamente que estávamos perante um caso de "grossa"  negligência.

E as raízes podem ser muito fundas.
Não é raro que a administração central "compre" soluções e receba problemas. Não existe de uma forma sistematizada uma capacidade de fazer um controlo adequado daquilo que se recebe ou sequer de saber aquilo que se quer.

As coisas são feitas pela rama, com enorme ligeireza e muita mais centradas em guerrinhas de poder do que em criar uma solução que funcione.
Entram aí os fornecedores dessas soluções que tentam legitimamente ganhar o seu com o menor número de problemas possível.
Se o cliente não pede um teste de stress ou se pede e ele é insuficiente porque baseado em estimativas erradas, não é o fornecedor que vai gastar mais tempo a testá-lo se o cliente não o pedir e não o pagar.

E obviamente ninguém podia esperar uma carga daquele nível no sistema. Ou podia?

Talvez pudesse esperar se tivesse consciência do risco que significava mudar o local (ou não) onde os eleitores iriam votar.
E pelos vistos tinham consciência desse impacto.
Tanto que tinham que foi proposto que se notificasse esses eleitores para que consultassem o serviço antes das eleições.
Mas isso nunca aconteceu e esteve na raiz da aceitação da demissão do director geral.
A aceitação dessa demissão teve como justificação o facto de ele ter ignorado ordens superiores para notificar os cidadãos. De acordo com a explicação, teria sido esse director geral a decidir à revelia da hierarquia que essa notificação não se fizesse apesar da hierarquia ter dito que se fizesse.

Achei tudo aquilo muito estranho. Não é nada normal haver gente na administração pública que se porte assim. Têm um pavor incrível de decidir chutando para cima a responsabilidade dessas decisões.

Mas o mais curioso é que sabemos agora que essas decisões que acabam por ser tomadas acima, são comunicadas verbalmente!!
Não há evidências escritas de que a decisão tenha tido o assentimento de superiores. Ou sequer se a decisão tenha partido de superiores.

Mesmo que não haja um despacho nesse sentido, acho estranho não haver sequer uma acta de reunião. Havendo matérias desta envergadura a ser decididas, espanta-me que tudo fique pelo que se diz e não fique nada registado para qualquer eventualidade.

Será isto por má fé? A julgar pelo que fizeram ao Director Geral quer-me parecer que é uma estratégia apurada ao longo de muitos anos para o caso das coisas correrem mal.

Assumindo que o director Geral até tem razão, e sabendo a forma como se "protegem", acredito que a secretária de Estado da Administração Interna esteja a mentir com todos os dentes que tem na boca. E no parlamento.
Passou uma imagem de total insubordinação do Director Geral para proteger o seu "rabiosque". Já sabemos qual foi o amigo que ela ganhou para a vida...

Os meus parabéns. Sócrates está a fazer "escola".