A oposição interna

Carrilho desanca Sócrates todos os dias em que tem oportunidade.

Ele dá voz aquilo que muitos pensam e não se atrevem a dizer. Apenas se atrevem os que não são do PS.

E é aí que reside a diferença. Carrilho é do PS e ainda que se lhe possa apontar que isto possa ser uma vendetta pela sua saída do cargo de embaixador também é verdade que a análise é duma lógica irrepreensível, ou não fosse ele filósofo.

Não gosto da atitude muito nacional que os inimigos dos meus inimigos meus amigos são, mas tenho de reconhecer que não vejo qualquer lucidez de análise noutros Socialistas. Veja-se o caso de Almeida Santos ou de Carlos César.

Não sei o que é que apareceu primeiro, a galinha ou o ovo, ou por outras palavras, se foi a critica de Carrilho que lhe valeu o lugar ou se a saída do lugar causa a critica agora, mas se tivermos de olhar para quem conhece melhor o personagem, então teremos de olhar para quem priva ou privou de perto com ele.

Não gosto nada de Carrilho como político. Deu mostras de um carácter mais que duvidoso nas eleições autárquicas. Culpou o PS dessa altura (que não é muito diferente do de hoje) pela falta de apoios.
Acusou tudo e todos pela sua derrota. Na verdade a culpa deve ser integralmente dele. Não é simpático, não é o tipo de individuo de fazer alguma coisa de relevante e o seu curriculo governativo não é inspirador de muita confiança.
Mas uma coisa ele é: Filósofo.
E quanto a isso está uns pontos bem acima da maioria dos cretinos acéfalos do PS de hoje. Nem cultos nem filósofos nem competentes. Sabem apenas baixar a cabeça em veneração a um déspota de meia tigela que sem o poder não é nada.

Henrique Neto também descreveu um cenário de absoluto controle do PS pela parte de Sócrates e dos seus amigos, onde mais uma vez se inclui Almeida Santos, e Henrique Neto não está numa posição delicada para ser ouvido como está Carrilho. A sede do poder e pelas coisas que o poder traz são descritas por Neto como o dia a dia deste PS em que a critica interna foi silenciada e qualquer posta em causa do líder esbarra com os "porteiros" da casa. Mais cedo ou mais tarde esses militantes são relegados à posição de militantes de base.

Posso imaginar que Carrilho, agora sem necessidade de lealdade à liderança do PS, tenha tido algum rebate de consciência e tenha resolvido dizer aquilo que vai na cabeça de muitos. Ela já nada tem a perder. Assim como assim mais vale ser fiel às suas convicções.

Hoje até Assis defendia a ajuda da UE ao contrário de seu obstinado líder. Será uma estratégia combinada ou será já um posicionamento para um PS em que se possa confiar para um governo de base política alargada?

Uma coisa é certa. Neste momento o PS precisa de encontrar alguém que seja um substituto do líder em queda.
Sócrates não sobreviverá a uma derrota. Quando se vai a jogo com todas as fichas é a glória ou  a bancarrota e Sócrates já passou o seu momento de glória há muito tempo.