O ódio a Sócrates

Na ressaca dos resultados de ontem vi, contra os meus princípios, o Eixo do Mal.

Já há algum tempo (em 2009) tinha escrito um post chamado a Cloaca Rosa em que tinha dado largas à minha opinião acerca do programa e dos seus intervenientes.

O programa mais não era do que um espaço de antena do PS e de Sócrates em particular. Se do lado da senhora presente a subserviência a Sócrates era óbvia, dos outros o que se tinha era um constante desancar no PSD e nos outros partidos da oposição, o que no fim acabava por ter o mesmo resultado.

Este painel disse coisas inomináveis de Manuela Ferreira Leite. Talvez com uma vitória dela nas eleições de 2009 o descrédito de Portugal nos mercados financeiros não fosse o que foi com Sócrates.

Mas adiante...

Clara Ferreira Alves falava ontem do ódio a Sócrates. Como se o país se tivesse levantado um dia e decidido que odiava o personagem, sem qualquer razão plausível para o fazer. Aquilo que é um ódio profundo a Sócrates é sobretudo um ódio aquilo que ele representou e representa de pior na nossa sociedade. Podia ser ele ou outro qualquer. Mas foi ele.
Nele reuniram-se características quase únicas. A falta de ideais, a falta de escrúpulos e a falta de conhecimentos. Uma ambição desmedida e traços psicóticos óbvios.
A eliminação dos opositores por todos os meios ao seu alcance e a tentativa de subversão da nossa ordem constitucional.
Tivesse esta criatura vivido num regime totalitário como a ex URSS ou um dos seus satélites e teria seguramente as mãos bem cheias de sangue.
Sócrates não acredita em nada a não ser no poder para si.

Porquê o ódio?

Desde muito cedo que Sócrates se apossou do "aparelho" do partido. Navegando na onda da vitória de 2005, tratou de colocar em posições chave do PS pessoas da sua confiança. A anulação do PS começou quase imediatamente a seguir às legislativas. Alguns expressaram preocupação, mas na vaga de subserviência e fascínio dos media pela sua personalidade, quase tudo foi esquecido num instante.

Muito rapidamente mostrou ao que vinha. A primeira campanha foi contra a magistratura.
A campanha das férias judiciais.
Fazendo uso de estatísticas manipuladas e da sempre presente mesquinhez do "tuga" deu-se a ideia errada de que os magistrados gozavam de um período de férias anuais de quase 3 meses. Não era raro ouvir conversas de café de gente indignada com o facto. Era inadmissível!!

Pouco importou que na sua reforma absurda se tornasse a vida impossível aos advogados e que fosse um pesadelo fazer os mapas de férias dos magistrados, ao concentrar num único mês as férias de toda a gente assegurando ainda os turnos.
Mas na justiça esse foi apenas o princípio. Havia uma clara agenda. E ela incluía uma limitação da sua capacidade de actuação em casos que envolvessem "amigos" do partido.
Mais para o fim do seu reinado juízes corajosos fizeram-lhe frente. Mas não sem enfrentar as consequências, e sem vermos um Presidente do Supremo ordenar a destruição de escutas num caso de tráfico de influências que envolvia próximos de Sócrates e ele próprio.
Nesse momento percebeu-se até que ponto a teia socialista tinha entranhado o sistema de justiça. Desde o MP até às mais altas instâncias do poder Judicial.
A separação de poderes foi posta em causa. Se não o foi na teoria, foi-o pelo menos na prática.

Depois veio o ensino. Usando a mesma estratégia que tão bons resultados tinha dado, virou o país contra os professores. Eram uns desocupados, com meses de férias e uns absentistas militantes.
O povinho fazendo sempre gala da sua limitação intelectual ligada a um inveja mortal, aplaudiu de pé.
Era preciso por a mão nessa "corja". A razão era apenas a de evitar gastar mais dinheiro com as progressões na carreira.
Agarrou-se em toda uma classe com um elevadíssimo grau de qualificações e transformou-se a mesma num grupo de aproveitadores desqualificados que "roubavam" o Estado.
Foi por esta altura a suspensão de um professor por causa de uma graçola que envolvia Sócrates ou a negação de aposentação a professores com cancro (pelo menos dois casos conhecidos nos media)
Nas escolas apareciam os simpatizantes de Sócrates e do PS, e os outros. A classe ficou virada do avesso. Quem sofreu com isto foi o ensino como um todo.
Para empolar estatísticas, facilitou-se tudo. Criaram-se as Novas Oportunidades que em vez de formar, certificavam apenas aquilo que as pessoas tinham aprendido durante a vida. Mandar um email era igual a ter qualificações em informática.
Houve ainda casos mais caricatos; o do famoso curso de futebol com equivalência do 9º ano.

Quanto á qualidade do ensino superior nada se fez. E como se podia fazer? É que entretanto soube-se que a licenciatura do nosso 1º Ministro não passava dum favor e duma "cortesia" da Universidade Independente. Obviamente com a colaboração como professor de um amigo de longa data de Sócrates. Um versatilíssimo professor que ministrou 4 das cadeiras com que ele se "licenciou".
Pouco importava que ele não estivesse inscrito na ordem. Pouco importava que ele assinasse Engenheiro quando não o era. Pouco importou a mais que suspeita celeridade e as assinaturas de favor de obras na Câmara da Guarda. Para os seus admiradores isto não era mais que uma campanha concertada de destruição do líder. E por isso alguns iriam pagar caro.

O autor do blog que expôs as inconsistências da sua "formação" foi perseguido nos tribunais. A sua vida foi virada de cabeça para baixo. A estratégia da defesa com ataque foi também usada pelo deputado do PS que "palmou" uns gravadores e depois processou os "roubados" com base numa qualquer imbecil tentativa de difamação. Se isto não é merecedor de uma condenação por litigância de má fé, não sei o que será.

Rebentou depois o caso Freeport. Caso esse que tinha ficado a marinar desde 2005. Pudera, com um dos envolvidos como 1º ministro não havia nenhum Magistrado do MP que se atrevesse a pegar em tal bomba. A intimidação à justiça logo no início do seu mandato deu frutos óbvios.

Mas rebentou mesmo assim. E aí mais uma vez se assistiu a um corropio de campanhas de contra informação. A história do tio e do primo "shaolin", as interferências meio bizarras de figuras dentro do MP e um redundar em nada dum caso que era obviamente do mais mal cheiroso que se podia imaginar.
Sócrates hoje finge que não é nada com ele. Teve a sorte de os casos terem rebentado quando tinha a pé em cima de quem o podia lesar. Agora será tarde de mais.

Não nos esqueçamos também, que dois lacaios do PS no Conselho Superior da Magistratura quiseram alterar a nota de Rui Teixeira de Muito Bom para uma outra, com o pretexto de que a sua decisão poderia vir a lesar o Estado. Isto por causa do processo cível colocado por Paulo Pedroso contra o Estado português em que pedia uns milhares de Euros de indemnização por prisão preventiva "ilegal". Só por intervenção de Laborinho Lúcio essa intenção peregrina não singrou. Por sua intervenção a nota ficou suspensa até à conclusão do caso.
Apesar dum acordão inacreditável que lhe deu razão numa 1ª instância, Pedroso recorreu duma decisão posterior da relação (o estado tinha recorrido dessa 1º decisão inqualificável). Sabemos hoje que Paulo Pedroso perdeu a causa no Supremo e que se cansou de recorrer.
Mas sabemos também que as lealdades dos lacaios do PS no CSM são bastante fortes e extravasam largamente a ética, a justiça e até o pudor.
Sabemos também que Rui Teixeira foi um juíz corajoso e independente. Apesar de a própria imprensa o ter ora demonizado ora endeusado, continua o seu trabalho com a mesma determinação e qualidade com que sempre o fez.
É de realçar também a forma como anos volvidos sobre o caso Casa Pia e sobre a prisão de Pedroso, o PS não esquece. Rui Teixeira estará sempre debaixo da mira dos lacaios e handy men do PS.

Com estes episódios se passaram 4 anos; a viver numa realidade paralela e a comportar-se como um líder todo poderoso. Sócrates fazia o que queria com o beneplácito de uma bancada do PS povoada de asnos votantes. O PS já nada mais era do que um grupo Estalinista que se levantava de forma concertada e aplaudia o grande Líder.

Chegados às eleições de 2009, era óbvio para muitos o estado ruinoso em que o país estava.
Manuela Ferreira Leite era líder do PSD. Os media tudo fizeram para dar uma ideia de que ela não era mais que uma figura salazarenta e desagradável que urgia abater.
Sócrates e o seu ministro das Finanças, que irá ficar na história como o técnico competente com menos espinha dorsal ou dignidade profissional da história, subiram os salários da função pública acima da inflação. Mas ao mesmo tempo a actualização dos escalões de IRS fez com que no fim do mês vissem no seu recibo exactamente a mesma coisa que viam antes do aumento. O estado, esse, em vez de limitar os seus gastos, eliminava até ao cêntimo toda a receita fiscal adicional. Foi o IRS, foi o IVA, foi o IMI, o IA etc etc etc.
Com a desculpa da "justiça" fiscal confiscou-se uma significativa parte da riqueza e dos rendimentos das famílias. Até ao osso.
E gastou-se em contratos, certamente celebrados por imbecis, com empresas privadas dando-lhes margens de rentabilidade absurdas e garantidas. Com isto desorçamentaram-se e diferiram-se 5 anos despesas de um nível inimaginável. Iremos começar a pagá-las dentro de um ou dois anos. Mas Sócrates já cá não está...

A par de todas estas "maravilhas" que Sócrates nos deixou, houve uma coisa realmente notável que ele nos deixou. O Medo. Pela primeira vez desde há muitos anos se assistiu a um retraimento das pessoas em dizer o que realmente lhes ia na alma. Com os exemplos passados as pessoas sabiam que em qualquer lado poderia haver um bufo.
Dizem-me os mais velhos que era esse o sentimento antes do 25 de Abril. Um bocado mais extremo é certo, mas semelhante em tudo.
Foram "abatidos" jornalistas incómodos. José Manuel Fernandes e Manuela Moura Guedes foram dois dos mais conhecidos e com direito a ameaças no próprio congresso do PS. Todos os que ele nomeou nesse congresso sentiram na pele as consequências do seu atrevimento.

Uma campanha concertada de comentadores de blogs e de artigos de jornal dava uma percepção completamente errada da base de apoio de Sócrates.
Até nos comícios desta campanha as vagas de entusiasmo e adulação não eram mais que uma parte do circo. Os palhaços viajavam todos juntos; Sócrates e os apoiantes.

Sócrates minou todas as estruturas do Estado. Delapidou o amor próprio e a capacidade do funcionalismo público sobrepondo-lhe uma estrutura redundante de assessores bem pagos e nomeados apenas por simpatias políticas. Fundações, comissões, grupos de estudos, avenças externas. Tudo isto fez disparar os custos do Estado e reduziu a sua eficácia a quase nada.
Tentou subverter a ordem constitucional e mentiu despudoradamente para obter a única coisa que lhe importa. O poder.
Hoje ainda haverá gente que acha que ele foi uma vítima da crise e das circunstâncias. Não concordo. Ele foi uma vítima dele próprio, da sua sofreguidão pelo poder e consequentemente pelo dinheiro.
Sócrates não foi mais que um "novo rico" da política. Sem conhecimentos, sem bagagem e sem escrúpulos.
Foi a personagem mais nefasta que podia ter chegado ao poder.

Dizia ontem o sr. do Bloco desse programa (Eixo do Mal) que Sócrates é determinado. Mas determinado e mentiroso. Mentiroso porque completamente despojado de ideologia (eu diria até que despojado de princípios). Por isso ele era apenas teimoso.

O problema é que ter um teimoso nos erros, com os destinos de um país de 10 milhões nas mãos, acaba por ser um potencial criminoso.
O que ele fez ao país é criminoso. Pela sua acção e pela sua inacção.

Só foi possível porque os portugueses se estão marimbando para o conteúdo e preocupam-se apenas com a casca. Vemos hoje, 6 anos depois, do que era feito Sócrates.
Muitos viram muito antes o que tínhamos feito como país. Mas foram minimizados, ridicularizados e tratados como inimigos.
Hoje temos uma factura louca para pagar. Sugeria que fossem os votantes no PS de 2005, 2009 e de ontem que paguem essa factura. Mas não sabemos quem são. Alguns terão feito parte dos 41% de abstenção. É uma pena que não possam ser só eles a pagar o que fizeram.
Seremos todos nós a pagar a loucura que deixaram este indivíduo cometer.

Ainda acham que não há razões para odiar alguém assim?

Como se vê, não só o ódio a Sócrates é fundado como é generalizado. São razões perfeitamente legítimas para alguém se tornar num líder odiado. Outros "grandes" conseguiram essa proeza no passado.

A tentativa de reduzir o enorme pontapé no cú que ele levou ontem a uma mera questão de simpatia/antipatia não pode estar mais longe da verdade.
talvez esteja para pessoas que vivem no regime, sem um grande esforço para conseguir pagar as contas e atingir os objectivos. Para pessoas como CFA que obrigam um empregado de um self service no Algarve a servi-la à mesa quando acompanhada do sr. Sá Fernandes (outro extraordinário servidor da coisa pública).

Esta gente que acha que o povo são os "outros". Que falam da saúde pública como se não usassem a privada porque a podem pagar, ou da educação como se alguma vez pusessem os seus filhos numa escola pública.

São eles que acham que isto que aconteceu a Sócrates foi apenas uma coisa "pessoal".  Ao dizer isto ou se colocam do lado do estúpidos que pouco percebem o que os rodeia, ou do lado dos mentirosos que preferem distorcer a verdade para satisfazer os seus objectivos.
De uma forma ou de outra, não resta grande coisa...