A operação de limpeza

Por estes dias que correm, algumas memórias do que se passou há apenas algumas semanas parece que se esvaíram.

Sócrates já é falado no passado, um passado distante. Os candidatos à liderança do partido ainda que completamente comprometidos com ele e com a sua forma de pensar e agir, não estão nada interessados em falar nesse passado e na sua evidente falta de opinião enquanto ele estava no poder.

Isto é mais óbvio com Francisco Assis, que nunca se fez rogado em defender e repetir as teses do líder. Nunca se coibiu de empolar histericamente toda e qualquer afirmação do PSD (em particular).
Assis nada mais foi do que o eco de Sócrates.

Não terá o atrevimento de romper com aquilo que foi o seu passado recente, mas tudo faz para que não se fale disso.

Seguro foi mais cauteloso. Estava dentro quando precisava e fora quando convinha. Dentro para não ser completamente ostracizado pela turba acéfala de apoiantes de Sócrates e fora quando tentava capitalizar para a sucessão do líder.

Os dois sabiam que Sócrates não iria durar. Ambos se posicionaram de forma a poder aproveitar-se disso.

Mas Costa foi o mais cauteloso e talvez o mais inteligente. Não se candidata.
E não o faz por mera protecção. Sabe que durante 4 anos o PS vai andar num desnorte total. O mesmo acontece ao PSD quando sai do poder. Tritura líder após líder na esperança de encontrar alguém que como Sócrates lhes devolva aquilo a que pensam ter direito - o país.

Costa vai assistir de fora a essa luta, com o pretexto de estar muito ocupado na CML. A desculpa perfeita que nenhum dos outros dois tem.

Mas independentemente do que possa acontecer a Sócrates e ao seu sucessor, é importante que nos lembremos do que nos vai acontecer a nós por causa deles.
A desculpabilização em que todos serão unânimes no PS é algo que não muda com a mudança de líder. Irão todos fazer finca pé na sua qualidade de meros espectadores de uma crise externa. Vão até dizer que a política que levaram a cabo não era de esquerda porque foram forçados a aplicar outra; uma política de direita.

É uma forma curiosa de assacar as culpas a quem não esteve no poder, dizendo que se limitaram a fazer os que os outros fariam.
O facto é que desde 2005, a forma como o país foi conduzido foi absolutamente ruinosa. Com ou sem crise, desde que o PS chegou ao poder os indicadores económicos começaram a agravar-se. Depois da crise, a sua negação nada ajudou.
A tentativa de mascarar o problema contraindo mais divida e esforçando ainda mais do ponto de vista fiscal o tecido económico causou efeitos devastadores.
Há hoje um desconfiança total acerca do comportamento de Portugal do ponto de vista económico. O risco de default está acima dos 40% por oposição ao da Espanha que se cifra em 20%.

O legado de Sócrates e do PS é pesadíssimo. Mas aquele que é hoje um partido derrotado e sem líder tudo fará para que isso seja esquecido.


Começou a operação de limpeza das responsabilidades do PS no que foi a desgraça nacional destes últimos 6 anos. Nas próximas legislativas aparecerão de cara lavada, amnésicos e propondo um país melhor. Outra vez...
Talvez se safem. Cabe ao próximo governo por em prática um enorme aperto de cinto. Vai ficar com o estigma da austeridade mais selvagem de que nos lembramos e isso não dá votos.
A única coisa que pode evitar um novo ciclo de PS dentro de 4 anos será a lembrança do que foi este período que passamos e de que nunca mais nos vamos esquecer.

Pouco me importa que ganhe Seguro, Assis ou Costa (quando ele se candidatar). Importa-me mesmo é que todos estes que foram cúmplices com o líder do maior roubo a que Portugal já assistiu, possam voltar a ter uma oportunidade de voltar ao poder. Isso sim, assusta-me.