Populismo? Demagogia? Ou simples honestidade?

É curiosa a forma como a simpatia ou antipatia por uma pessoa ou por uma ideologia faz com que se perca a objectividade na avaliação.

As críticas à viagem em classe económica de Passos Coelho e comitiva é um perfeito exemplo disso.

Se ainda há alguns meses, ou até dias, andava imensa gente a bradar por causa de gastos sumptuários injustificados de titulares de cargos públicos, hoje consegue-se encontrar gente que vê no gesto de PPC um acto de pura demagogia e populismo.

Não tanto pelo acto em si, mas por ter havido publicidade do mesmo. Quer dar-se a ideia de que o objectivo era apenas a publicidade do acto e não a sua substância.

Calculo que seja difícil agradar a gregos e a troianos, mas por vezes estica-se a corda para lá dos limites da razoabilidade.
Enquanto se brada contra carros de serviço de titulares, por outro classifica-se um gesto que pode significar uma poupança considerável se multiplicarmos pelo número de vezes e de pessoas que viajam em iguais circunstâncias, de um mero golpe populista e demagógico.

Estou seguro que as poupanças em viagens podem ser iguais a muitos salários médios anuais.

A questão da publicidade não é mais do que o reflexo do estranho que um gesto destes tem junto de um povo e dos contribuintes que estão muito habituados a pagar passando sacrifícios, para ver os titulares de cargos públicos a desbaratar o "seu" dinheiro em coisas que não têm qualquer justificação.

Não se pode por um lado criticar Santana pela compra de um Audi A8 blindado e ao mesmo tempo criticar Passos Coelho por reduzir os custos de viagens a metade. Os dois gestos são completamente opostos e se se está contra um não se pode estar contra o outro.

Eu como contribuinte que nunca sentei o traseiro num lugar em Executiva fico agradado por perceber, que alguém que defendeu durante a campanha o rigor e a poupança, pratica o que pregou e o faz sem ter receito de parecer menor ou menos importante.

Claro que há gente que vem dizer que isto é desprestigiante para um 1º ministro ou que o gesto foi apenas para recolher simpatia junto da opinião pública e foi pensado apenas para ser publicitado. Ou mais grave ainda, que o gesto foi para dar uma bofetada de luva branca em Paulo Rangel que esteve contra essa medida há algum tempo atrás.

Pode até ser que tudo isso seja verdade. Pode até ser que a publicidade tenha partido do próprio gabinete do PM. Mas a verdade é que passámos 6 anos a assistir a golpes publicitários muito mais graves e nunca ninguém pareceu preocupar-se com isso. A não ser uma mão cheia de outcasts que eram apontados a dedo pela sua permanente má língua.

Se temos gente num governo capaz de aceitar o terrível desafio que se lhes põe de uma forma materialmente desinteressada, então fico ainda mais contente com a sorte que tivemos como país em encontrar gente assim.

Parece-me mais que os críticos estão aborrecidos porque percebem que um gesto que nunca conseguiriam ter, tem reflexos positivos junto da população. Que começa a ter a sensação de que está perante uma forma diferente de fazer as coisas.
E têm receio de que isso pode passar a ser uma bitola pela qual se avalia a dedicação e coerência com que se abraça um cargo político.

Vi uma coisa semelhante a esta num comentário a uma foto do Ministro da Lambretta. Alguém dizia nesse comentário que chegou de Lambretta e saiu de carro oficial. Claro que a chegada de Lambretta viu-se, mas a saída no carro oficial não se viu nem há foto que o comprove...

É com esta objectividade que os perdedores analisam a realidade. Porventura a mesma com que analisam o que foi a desgraça de 6 anos que nos trouxe até aqui.

E não nos esqueçamos que durante esses 6 anos houve muitos gestos demagógicos com um mero objectivo eleitoralista. Mas nunca houve um gesto que desse o exemplo em 6 anos de aperto de cinto. Nem um.
Nunca o governo se coibiu de gastar profusamente o dinheiro dos contribuintes em coisas que mais não eram do que mordomias pessoais completamente injustificadas.

Seria muito bom que duma vez por todas o sectarismo partidário não desdenhasse de um gesto exemplar.
Um pequeno gesto que nenhum outro teve. E não me venham coma história de que não o fizeram porque seria visto como populista e demagógico.
Não o tiveram porque sempre olharam para os cargos políticos como uma forma de fazer uma vida à custa da coisa pública que nunca fariam com dinheiro próprio. Essa é que é a verdade.