Bubble burst?

Em comunicado, a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) afirma que há “muitas infra-estruturas em estado de degradação avançado, que necessitam obras urgentes de conservação”, nomeadamente na rede viária, instalações para produção de energia e da rede de saneamento básico.

A falta de verbas para garantir obras e a renegociação dos contratos de Concessões Rodoviários “aumenta o risco de degradação da actual rede de estradas e põe em causa a segurança das populações”, diz a AICCOPN.

Os industriais da construção civil consideram “gravosa a possibilidade de, no âmbito da renegociação dos contratos das concessões rodoviárias, prevista no acordo de ajuda externa, se proceder à substituição de investimentos produtivos em obras consideradas necessárias para o País (…) por indemnizações às concessionárias”.

De acordo com dados citados pela associação, a Estradas de Portugal prevê executar de mais de 400 intervenções em obras de arte até 2014, das quais 186 “correspondem a situações com elevado grau de degradação”.
Isto é no mínimo uma enorme falta de vergonha.
Essas concessões foram dadas a empresas "privadas" em troca das já famosas indemnizações compensatórias que ascendem a milhares de milhões de Euros por ano e que iremos começar a pagar em força a partir de 2013.
Estes contratos foram feitos de forma a garantir rentabilidades simpáticas a estes concessionários que teriam de garantir que o estado de conservação dos troços concessionados fosse assegurado por estas empresas.

Hoje em resposta ao anúncio do Governo de suspender alguma sub concessões, a resposta desta associação é no mínimo uma despudorada chantagem.
Não consigo perceber como é que a suspensão de NOVAS concessões pode afectar o estado de conservação de estradas já existentes.
Não consigo perceber como é que se pode trazer isto a terreiro quando os troços alternativos a SCUTS e auto estradas são deixados em estado de abandono quase total forçando muitas vezes a que se ande nos troços pagos.

No estado em que estamos eu diria que a suspensão dessas novas concessões e a renegociação das existentes é no mínimo um dever que este governo tem de cumprir.
Com as poupanças terá de dedicar uma parte a manter aquilo que ainda é o seu património - as estradas não concessionadas.
Tem de varrer de uma vez por todas toda esta cambada que vive da teta estatal e que não tem qualquer pudor em chantagear o Estado.
A criação de emprego que a  maior parte destas empresas garante, é precário, mal pago e muitas das vezes com recurso a sub empreiteiros e mão de obra emigrante, barata e ilegal.

Como dizia Manuela Ferreira Leite, este tipo de obras reduz o desemprego de Cabo Verde e de outros países com grandes comunidades emigrantes.

O sector da construção civil foi gerido desde os anos noventa duma forma absolutamente mentecapta.
Ajudado pela baixa das taxas de juro, os preços da habitação multiplicaram-se 2 ou 3 vezes num período de 10 anos.
Os construtores ganharam rios de dinheiro, muitas das vezes vendendo gato por lebre, e construiram por todo o lado sem qualquer critério. As autarquias olhando para a potencial receita de Contribuição Autárquica (hoje IMI) aprovaram TUDO o que se lhes pediu.
As famílias endividaram-se para lá do razoável fazendo as contas com taxas de juro variáveis a empréstimos com mensalidades no limiar da sua capacidade. Esqueciam-se do valor anual do IMI e muitas vezes do custo do condomínio.
Juntavam a isto empréstimos  para a mobília e para o carrinho novo, a juros muito mais elevados e dessa forma chegaram ao limite máximo de esforço.

Quando as taxas de juro começaram a subir e a economia passou de estagnada a recessiva, gente que perdeu o emprego ou que simplesmente teve uma actualização da taxa de juro dos seus empréstimos ficou com a corda na garganta.

Perdido dum lado, ganho do outro. As construtoras venderam pelo preço que quiseram. Encheram-se de pasta e ainda tinham o topete de propor que se fizessem escrituras abaixo do real valor de compra (pessoas que davam dinheiro como entrada) para que o valor de Sisa (ou IMT) fosse mais baixo e por forma a evitar ter tributação em IRC de muitos milhares de Euros.

Hoje este sector pede a ajuda do Estado. Um sector que viveu abastadamente durante décadas, criando fortunas do nada.

Criou-se uma distorção total do mercado de habitação. Tão óbvia ela é que a troika impôs a restrição ao crédito para habitação e o fomento do mercado de arrendamento. Quem beneficiou com isto foi o sector da construção.

Não só as empresas do sector dedicadas à habitação como aquelas dedicadas às obras públicas. Não houve empreiteiro que não fizesse uma rotunda por esse país fora. O país encheu-se de rotundas mesmo em casos onde a rotunda tem uma entrada e uma saída.
Hoje estes génios pedem que o Estado os ajude. E o que esteve o Estado a fazer estes anos todos? O estado ajudou-os, e de que maneira, mantendo a ilusão de que a construção civil seria sustentável indefinidamente.
Pois não o é.
Chegou o ponto em que já só podemos repetir estradas e fazer casas novas para não se venderem.

Ajustem-se à novas condições de mercado. Aos que não conseguem vender as casas por preços exorbitantes (que se recusam a baixar dadas as condições de mercado) convertam-se e transformem-se em empresas com imobiliário para arrendar. Arregacem as mangas porque infelizmente é isso que o Português que vive do seu salário tem de fazer.

E era o que mais faltava que agora pagassemos impostos para ajudar um sector que viveu ricamente durante anos e anos.
Estaria bem que o modesto português de classe média que anda num carrito modesto e passa as férias em equipamentos turísticos "paralelos" estivesse agora a ajudar um sector que lhe extorquiu o que quis quando comprou a casa (subia todas as semanas e era pegar ou largar).

Se há um sector de que não tenho pena nenhuma é precisamente o sector da construção civil. Já chega de reinado do imobiliário e da subjugação de tudo (políticos, autarcas, presidentes de clubes da bola) a um sector que entre outras coisas destruiu completamente a nossa paisagem, distorceu totalmente os nossos núcleos urbanos, que encheu os bolsos e se ficou a rir.
Tudo isto com a conivência dos políticos que sempre tiveram neste sector uma das mais importantes fontes de financiamento partidário (legítimo e ilegítimo).
Ora vão para o raio que os parta.
Vivam dos juros das aplicações em off shores.