Curteza de vistas ou tiques antigos?

Merkel vai onde nunca ninguém foi antes. E fá-lo com um atrevimento e uma arrogância que já custou à Alemanha e à Europa um sofrimento atroz.

Merkel coloca hoje a Alemanha numa posição de farol moral que não difere muito da pureza ariana defendida por Hitler e pelos ideólogos nazis.
Se uns defendiam a pureza e a superioridade da raça, Merkel defende uma espécie de pureza moral e ética que permitiria retirar a povos inteiros a capacidade de decidir os seus destinos.

Nem num estado federal as coisas funcionam assim. O grau de autonomia dos estados da "sua" Alemanha é maior que aquilo que ele pretende "dar" a quem não cumpra as normas do deficit.

A perda de soberania é talvez a proposta mais desavergonhada e evocadora dum passado terrível que a Alemanha alguma vez fez.

Não nos esqueçamos que a entrada destes países para a CEE não foi mais que a abertura de mercados enormes para a Alemanha. Estes países foram durante anos as vacas leiteiras da Alemanha. E à falta de dinheiro para comprar os bens de consumo que a Alemanha fabricava ainda a banca ganhava algum dinheiro garantindo ainda a cobrança de juros dessa dívida.
A Alemanha deslocalizou muita da sua indústria para países onde a mão de obra era mais barata e andou a saltitar com ela de país em país á medida que os salários iam subindo.
Adquiriu vários fabricantes automóveis e usou a sua capacidade produtiva para se transformar numa das maiores, senão a maior, potência industrial do sector automóvel.

O que a Alemanha subestimou foi a capacidade inata dos falidos de levar as coisas ao limite. E a Grécia assim o fez. E muito gastou com a Alemanha em comboios, automóveis, maquinaria pesada e até com a loucura que foram os jogos Olímpicos. A Alemanha reaveu uma parte do dinheiro que emprestou e ainda manteve a dívida e a cobrança de juros.

Hoje a Alemanha levanta a cabeça virtuosa e arrogando-se um estatuto de moralidade e ética que só conseguiu porque de uma certa forma toda a Europa transferiu para ela muita da sua riqueza.

No entanto a Alemanha no fim da 2ª Guerra Mundial (que ela própria iniciou com a anexação da Austria e seguidamente com a invasão da Polónia) só conseguiu sair das cinzas com a injecção maciça de dinheiro do plano Marshall. E com a não imposição de condições humilhantes como as do tratado de Versalhes no fim da 1ª Guerra Mundial. O desejo de não criar as condições de uma outra guerra permitiu à Alemanha manter a sua integridade territorial com a excepção da parte ocupada pela URSS. Livres de reconstruir uma enorme parte do seu país, a Alemanha era já nos anos 50 uma potência industrial. Renascer das cinzas de uma guerra em menos de 10 anos só foi possível porque quando precisou alguém lhe deu a mão.

Periodicamente a Alemanha tem estes tiques. São organizados, é verdade, mas são arrogantes e gostam de subordinar tudo a sua forma de ver o mundo. Em tempos foi a raça e o "espaço vital". Hoje é a maldita economia.

Como normalmente se diz - Se deves 1000 ao banco tens um problema. Se deves 1 bilião o banco tem um problema.
Espero bem que Merkel deixe de fazer figuras estúpidas e perceba que a sua bem amada Alemanha tem um problema e que precisa de trabalhar com os outros para o resolver. A não ser que a sua educação leste alemã traga à tona tendências totalitárias totalmente inaceitáveis nos dias que correm