Os media (1)

Desde há muito tempo que me parece que a informação que nos servem, sobretudo pela televisão, é fortemente condicionada pela visão pessoal do jornalista que "serve" essa informação.

Apesar de não ter uma memória de elefante, lembro-me claramente que a forma como a informação televisiva tratava Sócrates era bem diferente da forma como trata Passos Coelho.
Se um andou em Estado de Graça até ao rebentamento final, com comentadores a louvar as suas características de determinação e habilidade política, com Passos Coelho já eram servidas tareias diárias durante o 1º mês à frente do Governo.

Mas há coisas que ultrapassam os limites da informação e extravasam para a má vontade e para o mau perder.

A cronologia de todo este processo é bastante curiosa.
Mal o Governo tomou posse começou o blitz.

Quando é que eram apresentados os planos de corte da despesa, quanto é que o Governo iria cortar etc etc.
Uma das primeiras medidas foi a da abolição da necessidade de usar fato e gravata no Ministério  da Agricultura.
A Ministra foi chamada de tudo. Mas o mais curioso é que mesmo sendo um gesto simbólico e que devia ser tomado como tal, comentadores e jornalistas fizeram sempre questão de dizer que o que se iria poupar em custos de energia com um grau de temperatura a mais no ar condicionado era ridículo.

Seguidamente o caso dos Governadores Civis. Uma estrutura anacrónica, obsoleta e cara demais para o serviço que fornece.
Rapidamente saltaram os media a terreiro, apontando o facto de os Governos Civis se sustentarem sozinhos e não serem deficitários.
Como? Então os Governos Civis não recebem uma fatia grossa do seu orçamento do Estado central? Sim. Ficam com uma percentagem das coimas que de outra forma reverteriam integralmente para o Estado? Sim. Cobram por serviços (passaportes) que ao ser emitidos por outra entidade reverteriam também para o Estado? Sim
Façamos então uma continha rápida.
Créditos
x - dotação orçamental da Administração central
y - receitas de passaportes e outros serviços
z - percentagem das coimas

Débitos
a - Salários e ajudas de custo do Governador Civil
b - Salários e outros débitos de pessoal adstrito ao Governador Civil
c - Custos com instalações dos Governos Civis
d - Salários e custos de pessoal de restantes funcionários

Situação presente
Saldo 1 = (x+y+z) - (a+b+c+d)
Situação futura
Saldo 2 = (x+y+z) - (c+d)

Eu diria que na minha fraca matemática o Saldo 2 é maior que o saldo 1. A medida ainda que simbólica significa algum ganho para o Estado. Pode não ser muito mas o saldo é não nulo. Os media preferiram ignorar isto e preferiram dar voz a alguns que viram a sua carreira como altos funcionários do Estado ser interrompida.
Que eu saiba ainda ninguém deixou de ter passaporte. O herdeiro natural dessa função é o SEF. Estranho era que não o fosse já.

A seguir a este processo veio o caso da derrapagem orçamental e do "desvio colossal". Pelo que se veio a saber com a gravação do que foi dito no Conselho Nacional, Passos Coelho disse que havia um desvio e seria necessário um "esforço colossal".
O Ministro das Finanças explicou isto mesmo. Disse ele que entre as palavras "desvio" e "colossal" houve mais palavras pelo meio. Foi quase caricaturado por causa das suas afirmações. Dias depois a gravação confirmava que quer Passos Coelho quer Vitor Gaspar tinham dito a verdade. Ninguém ligou. Os media com o seu "amor" à verdade ainda atribuem a expressão "desvio colossal" a Passos Coelho.

Mais recentemente o caso das Secretas e do jornalista.
Esse caso passou-se em 2010 sob a tutela de Sócrates. Pelos vistos o jornalista estaria bem informado do que se passava e alguém tentou perceber quem era a fonte nos Serviços Secretos que passava informação ao jornalista.
Seja por iniciativa do chefe dos serviços com conhecimento superior ou não, a responsabilidade é de quem o tutelava à data. Este Governo NADA tem que ver com o assunto.
Só numa ocasião é que ouvi nas notícias alguém fazer esta ligação com o anterior executivo. Em vez de esclarecer esse facto, e o mais recente caso da investigação de pessoas a pedido de "gestores" de empresas privadas, preferem deixar na penumbra da informação o facto de isto ter acontecido debaixo do nariz de Sócrates que tutelava directamente as "secretas"

Chegam finalmente os cortes.
Aqui del rei que isto não são cortes nenhuns. Mesmo perante os números de redução de despesa do Estado expresso em % do PIB continua a insistir-se que não é corte nenhum.
Agora já passamos a outra fase. É um bocado impossível de dizer que não há cortes. é um bocado impossível não perceber que o Governo de Sócrates cortou precisamente nas mesmas coisas (lembram-se das Escolas a fechar e dos serviços hospitalares?) e diz-se agora que o Governo é optimista.
Pois então. Este Governo é optimista.
Estes argutos especialistas que deixaram passar em claro na altura em que foram proferidas expressões como "Portugal é um Oásis" a economia "portuguesa saiu primeiro que as outras da crise" ou expressões do mesmo tipo proferidas por uma extenso alinhamento de alienados do PS e do governo de Sócrates.

A outra diferença notável é a forma como os jornalistas se atrevem a dizer coisas que vão muito para lá daquilo que é o dever de informar.
Destaco duas situações em que uma chapada bem assente no focinho de tão notáveis profissionais não seria certamente desperdiçada.
Na TSF no fim de uma conferência de imprensa de Vitor Gaspar, num directo, o jornalista diz a seguinte frase - "Vitor Gaspar persiste em responder aos jornalistas."
Numa conferência de imprensa, o orador "persiste" em responder às perguntas que lhe fazem. Que coisa chocante e incómoda.
Ontem um "jornalista" numa peça sobre as declarações de Passos Coelho acerca da possibilidade de uma crise externa provocar novas medidas de emergência com recurso a impostos, termina com o seguinte apontamento.
"No caso de as coisas correrem mal, Passos Coelho já tem a justificação ensaiada"

Quem é que mandatou estes anormais para nos darem as suas opiniões? Quem é que mandatou estes anormais para, apesar de se referirem a um governo maioritariamente eleito pelos cidadãos, acharem que têm legitimidade para nos dizer que afinal eles (os jornalistas) é que estão certos?
Porque é que esta gente, tão orgulhosa da sua isenção se portou cobardemente, ou como cúmplice, dum Governo miserável e agora se comporta como um puto com birrinha por lhe terem tirado o doce?

Curiosamente isto acontece na estação de televisão de Balsemão. O tal que é todo liberal e de direita. Acontece com meia dúzia de idiotas que se passam por jornalistas que acham que é mais importante ser espirituoso e engraçadinho do que ser competente e saber fazer as perguntas certas.
São pessoas que estão no jornalismo para que saibamos o que elas pensam em vez de serem o veículo dos factos e das notícias.
Com gente deste calibre nos media, como podemos nós confiar no que nos dizem?