Gato escondido

A Nacionalização do BPN sempre me cheirou mal.

Não fazia sentido que um banco com uma quota de mercado inexpressiva, muito associado ao PSD e seus "amigos" fosse nacionalizado por um Governo PS com a pressa e com a desculpa que foi dada para o fazer.

Desde esse dia sempre disse que isso só podia acontecer se houvesse gente do PS implicada em alguma coisa menos clara. Podia ser só para garantir os seus "investimentos" ou por outra coisa qualquer ainda mais sombria.

Tal como eu esperava, aí está a explicação.
O dinheiro não tem cor política. E não é mais limpo por ser de um lado ou de outro.

A rede de branqueamento de dinheiro serviu e serve, entre outras coisas, para fugir ao fisco. Se for dinheiro ganho honestamente é até legítimo que num mercado em que há livre circulação de capitais se tente colocar num sítio mais vantajoso.
Mas e se esse dinheiro andou sempre à margem do sistema fiscal? E se esse dinheiro é o resultado de corrupção?

Das comissões por debaixo da mesa, as negociatas indizíveis, ou o resultado de contas aldrabadas nas empresas para fugir à tributação de IRC?

Só alguém que tenta deliberadamente esconder dinheiro sujo é que está disposto a pagar as elevadas comissões que estes serviços acarretam. Não é de todo impossível que valores de 25% ou mais sejam "consumidos" nesse serviço. E isso só acontece com dinheiro verdadeiramente sujo.

Esta é a ponta do iceberg. É uma rede organizada entre muitas outras a que as pessoas de "posses" têm acesso. A Suíça é um dos sítios favoritos, mas sem grande esforço, abrir uma conta em Gibraltar pode ser uma alternativa.
E nem é preciso sujar as mãos para ir lá fazer depósitos. Em numerário, como se impõe.

Há uns anos atrás (fim dos 90) uma pessoa conhecida propôs-me colocar as minhas economias ao "fresco". Eram magras, mas segundo ele a ideia era juntar um certo volume e colocar fora do país.

Vantagens? Várias. Imposto sobre as mais valias de capital eram nulas. POdia abrir uma off shore e se quisesse comprar algum bem significativo poderia fazê-lo via off shore. Em caso de algum problema eu não tinha qualquer património e tudo era emprestado.
Não o foz mas sei quem o fez. E as vantagens que tirou disso.

E se havia essa possibilidade para os pelintras, imaginem para alguém com uns milhões na mão. Até num banco normal lhe propõem uma coisa dessas. Sem hesitar.

Nesta "rede" estarão nomes bem conhecidos da nossa praça. Sobretudo nomes conhecidos com dinheiro sujo para lavar. Se assim não fosse não se tinha posto a tampa no caso BPN com a rapidez com que aconteceu.

Esta investigação deve ser de meter medo. Estes tipo bem apertados vão começar a debitar nomes uns atrás dos outros. Duarte Lima já começou a cantar. Talvez porque pense que se for ao fundo, é melhor levar companhia, ou simplesmente porque deixou rasto.

A verdade é que por esta altura deve estar muita gente a por as barbas de molho. Consigam estes magistrados levar a cabo o seu trabalho e ainda veremos uma onda de demissões de cargos importantes "por razões pessoais". Estejam atentos às notícias.