Uma certa forma de desresponsabilização

A seguir está uma sequência em jeito de diálogo entre dois  comentadores de um blog infinitamente mais conhecido do que o meu.
E os comentários de um dos intervenientes é exemplarmente ilustrativo de uma certa forma de pensar "à esquerda" que leva muito boa gente a apontar o dedo à banca e ao capital de todas as desgraças que nos podem acontecer.
Os bancos foram os responsaveis pela crise atual.Como dizia Marx é menor crime assaltar um Banco do que criar uma destas institui~ções financeiras .Contas por alto os Bancos custaram “0 mil milhões de euros aos contribuintes portugueses .Para si pode ser pouco, para mim foi um roubo ,com chancela dos sucessivos governos,á bolsa de cada um de n´+os (Pelo menos á minhs que não sou F.P e todos os anos entre contribuições e taxas , vejo metade do meu rendimento eclipsar-se.

Ninguém me obriga a pedir dinheiro emprestado. Eles podem-me oferecer pordutos e serviços, mas eu sou a última voz a tomar a decisão. Parte da banca é responsável pela crise (não toda a banca, como Vc. faz) mas são muito mais os que usam os lirismos marxistas para gastos que nunca deveriam ter ocrrido.

De facto nada o obriga ! mas a persuação é tão forte que pudemos passar por ser maus pais ou maridos se não o fizer-mos.Nesta sociedade o maior crime é não consumir Milhões de euros são gastos para nos convencerem disto……Quanto a mim não estou convvencido ,sou um descrente e seguramente encotrarei Dante no dia em que parar de Respirar )

Desculpe que lhe diga, mas Vc. está a desculpar a sua fraqueza. O banco tem culpa que cliente não seja forte o suficiente para não cair nos apelos consumistas? Ou ter educado mal os filhos? Não me leve a mal, mas olhe que a culpa é do cliente, não dos bancos ou outros.

Se eu fosse a pensar assim, eu diria o mesmo de alguns partidos políticos. E tinha só um para mim. ;)

Em muitos casos aquele que manda disparar a bala assassins é mais culpado do que aquele que efetivamente a dispara .O primeiro fá-lo por calculo o segundo por necessidade .A conspiração novo-liberal tem os seus masterminds e os seus executores Digo-lhe isto com todo o respeito mas o Sr.Considera os primeiros menos culpados que os segundos e tal prespetiva parece.me IMORALEsta teoria só tem um pequeno problema. O exercício do livre arbítrio. Mas mesmo nesse caso a esquerda não se detém.
Invocam a pressão social, familiar e outras para ceder aos apelos consumistas, contraindo dívida para satisfazer essas necessidades.
A parte que eu mais gosto é esta:
De facto nada o obriga ! mas a persuação é tão forte que pudemos passar por ser maus pais ou maridos se não o fizer-mos.Nesta sociedade o maior crime é não consumir Milhões de euros são gastos para nos convencerem disto.
Isto é o limite. E o limite é assumir que a vontade e a capacidade de raciocínio nada podem contra a campanha promovida pelas "forças" ocultas do consumismo.
E isto é fantástico. A sociedade divide-se entre carneiros que não conseguem ceder às tentações, desculpabilizando-se sistematicamente de tudo o que lhes acontece e os outros que apesar de não cederem ficam com a factura para pagar. A factura que aqueles que cedem acabam por causar a todos os outros.
Isto faz-me lembrar muito a forma como os toxicodependentes se vêm a eles próprios. Foram vitimas das circunstâncias, são de facto doentes sem vontade própria e precisam que a sociedade os ajude, sem os recriminar, a não repetir a descida aos infernos.
Muito raramente assumem a responsabilidade que têm em todo o processo. São doentes. E todos os não doentes, a família, os amigos, o sistema de saúde têm o pesado fardo de arcar com a sua doença e com as consequências da mesma porque eles "não são capazes".

De facto a esquerda vê o livre arbítrio, a capacidade individual como indesejável. A ideia é o "grupo". O indivíduo e o que daí decorre, o individualismo, são perniciosos. Como tal, todos os regimes de esquerda que se puderam implementar aplicaram este princípio. Havia, no entanto, uns quantos líderes que determinavam o que era melhor para o colectivo, uma vez que o colectivo não tinha nem a capacidade nem a liberdade para o fazer.

O que é fascinante é que todos estes pobres coitados prontamente assinaram contratos que lhes puseram a´frente.
Sabiam que se não pagassem a casa ou o carro ficariam sem eles. Mas como estavam tão inebriados com o que tinham à frente nem se preocuparam em projectar o futuro a 5 ou 10 anos para perceber que se deve ser cauteloso em vez de empregar até ao último tostão em "coisas".

Dizem hoje que o banco é culpado.  Só se for por ter sido extremamente eficaz a angariar parolos sem vontade própria. Gente que preferiu esquecer a cautela em troca de ter uma vida que não podia ter.

Quando se percebe que há gente que compra televisões a prestações, telemóveis de última geração e Ipads a crédito é caso para perguntar se esse tipo de comportamento é da responsabilidade dos próprios ou dos apelos ao consumo.

Quando esta gente chega a tribunal fica indignada porque um contrato é um contrato e vêm o tribunal condená-los a pagar aquilo com que se comprometeram com o banco. Aborrecem-se com a justiça. Porque justiça para eles era o banco arcar com o prejuízo. A sua palavra, e a sua assinatura, de nada valem. Infelizmente a realidade é como é, e não vai ser a jurisprudência do caso de Portalegre que vai safar toda esta massa de irresponsáveis  de pagar aquilo que devem depois de a casa ser reavaliada e vendida.

As condições que estavam reunidas naquele caso tornaram possível que a decisão fosse essa.
Na maioria dos casos nem os advogados sabem fazer o seu trabalho adequadamente nem a conjugação de circunstâncias permite que se tome decisão similar.

O que é bonito de ver é que a banca, que era a melhor amiga do homem quando "dava" dinheiro e "coisas" e  hoje é a maldita porque os enganou.

Portugal é um país de gente que não sabe fazer contas. Não sabe minimamente gerir as suas finanças pessoais. Anseia por coisa que não pode ter e acha que o crédito é uma forma de as conseguir. O problema é que empenham durante anos todo o seu rendimento para o poder fazer. E fazem-no a juros usurários e nem querem saber.

Aqueles que não cederam ao consumo pago com língua de palmo, estão hoje a suspirar de alívio. Têm de fazer os seus "apertos" mas não têm de passar pela vergonha de ter de entregar o carro ao banco ou de ir a tribunal por um crédito para umas férias em Punta Cana.

O curioso é que ainda há um ano atrás era o tipo das férias que mostrava com orgulho as fotografias da praia paradisíaca tiradas com a câmara digital de última geração paga em 12 meses sem juros. E mostrava-as na TV 3D LED paga com um crédito fantástico de 36 meses.

Que eles eram uns irresponsáveis já muitos de nós o sabiam. O que eu não esperava é que eles próprios se considerassem inimputáveis.