O Algarve em colapso e a Espanha em saldo

Um artigo no Público chamou a minha atenção. O mundo do imobiliário de pantanas, é o que é.

Mas apesar de a crise ser enorme dos dois lados da fronteira, nós por cá temos um sector que deve estar à espera de uma segunda vinda de Cristo à terra.

Em Espanha o imobiliário está em saldo. Segundo o artigo pode comprar-se uma moradia por 65 mil euros ao pé de dois campos de golfe.

Não foi preciso a crise do imobiliário para que a diferença entre o preço em Espanha e em Portugal fosse acentuada. Já era assim antes.

No Algarve parece existir a mania de que é o melhor destino de férias do Mundo. E os preços absurdos da habitação para quem quer dar esse salto e das estadias nos equipamentos hoteleiros é muitas vezes o dobro daquilo que se pratica em Espanha.

Apesar da enorme balbúrdia que o Algarve se tornou, os preços não o reflectem. Existe um turismo para ricos e um outro, paralelo e informal, para os remediados.

Em Espanha sempre houve a noção de que deve haver turismo acessível a todas as bolsas. E o turismo de preços mais baixos não é necessariamente uma calamidade. É mais modesto, mas ainda assim decente.

Já há vários anos que vou para Espanha. Não é por falta de patriotismo. É mesmo por falta de dinheiro.
Conseguir pagar duas semanas de férias para toda a família no Algarve é para mim uma tarefa impossível. Mesmo ficando tão longe da praia que todos os dias tenho de passar pelo penoso exercício de agarrar no carro e tentar arranjar um lugar ao sol algures.

Qualquer coisa que fique a menos de 5 km na praia com algumas condições é proibitivo.

Pensei em tempos comprar a credito (bem entendido) um espaço para passar as férias lá. Mas os preços eram tão absurdos por um miserável T1 em que tínhamos de dormir encavalitados uns nos outros que esqueci a ideia imediatamente. Hoje o Algarve está para venda. Há tabuletas por todo o lado.
Mas quando se pergunta o preço quase parece que aquela gente enlouqueceu. Pedem virtualmente o mesmo que pediam há 5 anos atrás.

Em Espanha, pelo contrário, vendem uma casa por METADE do valor de há 3 anos. A distância a pé da praia com muito melhores condições. Os impostos sobre o património são mais baixos e consegue tratar-se de toda a burocracia num ápice.

Os espanhois perceberam as leis da oferta e da procura. As férias deste ano são mais baratas que as do ano passado e que as de há 2 anos. No Algarve não. Os preços das diárias subiram.

Ou esta gente é estúpida e merecedora de alguma condescendência ou então são uns FDP aproveitadores que bem merecem ficar com as camas vazias. No que a mim diz respeito vão ficar.

Claro que já andam em pânico a dizer que o Governo deve fazer alguma coisa. Curiosa atitude. Enquanto se encheram estavam na maior. Agora querem ajuda.

Se gostam tanto das virtudes da economia de mercado, ela tem destas coisas. Armazena-se no tempo das vacas gordas para sobreviver durante o tempo das vacas magras. Não fizeram isso pois não? Azar.

O Algarve irá chegar a um ponto em que vai ter de demolir o lixo que deixou construir. Isso se quiser continuar a praticar preços de turismo de luxo. Se quiser manter o mesmo estado de coisas é bom que se prepare para ter cada vez menos qualidade.
A um inglês ou a um alemão tanto lhe dá vir para o Algarve como para Espanha. E muitos vão para Espanha. Dos países de Leste vão aos milhares, ao ponto dos restaurantes terem já menus em Russo.

A Espanha pode estar em saldo, mas será provavelmente isso que os vai salvar. Nós, de nariz empertigado e armados em elitistas vamos ficar a chuchar no dedo.

Francamente não tenho pena nenhuma. Tiveram dezenas de anos para fazer as coisas bem. Escolheram  lucro fácil, conseguiram construir toda a espécie de porcaria à custa de corrupção e compadrio e agora estão condenados. Acresce a isto a massiva venda de propriedade por gente que já nem consegue pagar a primeira casa, quanto mais a casa de férias.

Foi isto que conseguiram fazer. Parabéns.

No final deste verão veremos se o turismo do Algarve não começa a pedir desesperadamente aos portugueses para passar lá férias. Aos mesmos portugueses a quem olham de cima enquanto põem a passadeira vermelha a qualquer inglês entre o hooligan e o bêbado que lhes apareça na frente.

Quanto a mim, e enquanto gastar metade a passar as férias em Espanha estará tarde que volte. E não sou só eu. Portugueses a passar férias em Espanha são aos milhares. E não vão por ser pedantes ou pouco patriotas. Vão porque não conseguem pagar umas férias dignas no Algarve. Deixam o Algarve para os ricos.
Não era isso que queriam?