A opinião desinteressada de Capucho

"Nunca subestimem a fúria de uma mulher despeitada".

É quase o que transparece das palavras de Capucho ao i.

Em todos os partidos existem lutas intestinas pelo poder, pelos lugares e pela influência. O PSD é talvez o caso mais óbvio de tal situação.

É de tal forma pouco coeso que as antipatias pessoais, as invejas e a guerra pelos lugares chega ao ponto de destruir o próprio partido e transformá-lo numa interminável guerra de barões e baronetes.

Capucho é um desses barões. Desvinculou-se do partido, suspendeu o mandato em Cascais por um ano e saiu do Conselho de Estado, mas não consegue viver sem o mediatismo que a política dá.

Quando diz uma coisa como estas "Como qualquer cidadão mantenho-me activo através da comunicação social" deve estar a pensar num muito restrito grupo de cidadãos. O seu curriculo é o de qualquer indivíduo que tenha vivido da política desde o 25 de Abril. Membro do governo, da administração local, comendas, cargos honorários. Por isso tem acesso à comunicação social. Só por isso. Não é pelo brilhantismo das suas ideias nem por outra razão qualquer.

Olha-se para ele como alguém de peso no PSD. Do qual saiu.

Mas como tem a sorte de ser convidado para televisões e entrevistado por jornais, não perde uma oportunidade de destilar fel relativamente a Passos Coelho.
Os seus ódios alargam-se por inerência a este governo. Ao ponto de dizer ou pelo menos insinuar que um governo eleito com maioria absoluta devia ser "terminado".

Acho incrível que o ódio pessoal por "Passos o ter posto de lado" se sobreponha ao interesse do país em manter alguma estabilidade para conseguir aquilo que é um imperativo - financiar-se em 2014 no mercado da dívida soberana.

É inacreditável que tendo suspendido a militância por despeito (é assim que se chama o sentimento por não ser um "favorito") faça tudo por destruir a liderança do partido ao qual já não pertence. Afirmando ainda por cima que não é ele que está a mais no partido porque ele já lá não está.
Então se não está, terá a mesma legitimidade para criticar as opções do partido que tem para criticar as do PCP.

Quando não se pertence a um partido, chama-se a isso ingerência nas questões internas. Para o bem ou para o mal.

Se quer intervir faça o que faz qualquer outro militante. Filie-se, participe e tente recolher apoios. Estaria na mesma situação que a maioria dos simpatizantes do partido, não fosse o mediatismo que o partido lhe proporcionou. E que aproveita para desferir um golpe, de considerável cobardia, na actual liderança.

Quando digo que a política é suja, vêm-me à cabeça episódios como este. É esta atitude de pequenos barões despeitados que corrói o PSD por dentro a ponto de o tornar, aos olhos de muitos, como um galinheiro de vários galos que lutam pelo poleiro.
Mas a verdade é que quando foi preciso alguém para tomar as rédeas de um país arruinado, foi um franginho atrevido que deu o peito às balas. Na verdade os galos são capões. Saltam empoados quando vêm trazer comida. Apenas isso. Quando pressentem que alguém vai ser cozinhado para o jantar, fogem, escondem-se e esperam que a faca caia noutro pescoço.

O PSD está infelizmente cheio de capões. Alguns invocam razões de saúde para deixar lugares a que se candidataram na esperança de atingir voos mais altos.
Quando percebem que não vão poder voar, o coraçãozinho doente fica subitamente em condições e voltam à arena para desafiar os outros galos.

Capucho desagrada-me. Porque acho que tal como muitos pensa primeiro em si, porque tenho sérias dúvidas que entenda o que é ser "povo pagante" e porque acho duma cobardia inominável e duma falta de sentido de estado gritante preferir ver um país em turbulência por causa de ambições pessoais.