Um país de gente louca?

Parece-me que sim.

Quando lhe mexem no bolso o português transforma-se num incendiário tresloucado.
Tenho lido e ouvido coisas da boca dos comentadores profissionais, ou não, que fariam corar qualquer constitucionalista.

Passou-se a uma fase em que se questiona a legitimidade de um governo, obtida em eleições, porque as pessoas estão descontentes.

Chegamos ao ponto limite e isso fez as pessoas sair à rua. Ou seja, se não se tivesse atingido um ponto perigoso do país do ponto de vista financeiro, qualquer governo ladrão poderia estar descansado quanto à sua permanência.

Parece ter sido isso que sustentou dois governos Sócrates. Contraindo dívida alegremente criando contratos ruinosos uns em cima dos outros sem ninguém se aperceber e sobretudo sem haver, ainda, uma conta para pagar.
Tudo o que se fez que contribuiu para nos colocar bem perto do limite não conta para nada no que diz respeito à legitimidade de um governo corrupto e danoso para o país. Esse era legítimo.

Bem sabemos que a Troika está cá e porque é que está. Não foi a crise internacional, não foi o PSD nem o CDS e os outros partidos da oposição que governaram antes desse momento. Foi o PS com Sócrates.
Os 80 contratos de PPP's feitos na sua gestão fazem os 8 das gestões não PS parecer uma brincadeira.
Esses contratos e outras negociatas ruinosas, como a Parque Escolar ou permitir um endividamento desmesurado no sector dos transportes trouxeram-nos aqui.
E muito disso foi feito para que se escondesse em dívida aquilo que poderia ser considerado impopular - subidas de preços, portagens etc etc.
Aí o governo era legítimo. Era bonzinho e preferia deixar para "depois" (sob a forma de dívida) a má notícia de que tinhamos de pagar a conta.

Desorçamentou, não controlou e fez tudo o que de mau se pode fazer na gestão orçamental de um país. O Estado pura e simplesmente acumulou dívida fora e dentro. Para não ser impopular.
Usou dinheiros públicos para coisas que hoje nos fazem corar. Não são os carros dos ministros nem minudências dessas. São biliões em obras inuteis, com derrapagens e sem controlo.
A Parque Escolar é o exemplo de uma empresa inútil, pessimamente gerida e enterrada em dívidas. Ou melhor, com dívidas onde nos enterra a nós.

Este governo tem feito um enorme esforço para equilibrar as coisas. Cometeu no entanto um erro estúpido. Mexer na TSU sem grandes resultados práticos do ponto de vista de receita apenas para evitar o inevitável - o desemprego. E está por demonstrar que a medida trave o desemprego, quanto mais reverter a tendência.

Subitamente passou a ser um governo de ladróes e o alvo de uma ira reprimida contra classe política.
Passos é agora a personificação de todos os males.

Sócrates passa incólume. Janta com correligionários fieis na véspera das manifestações. Defeca olimpicamente em cima de Seguro.
Vieira da Silva, Silva Pereira e outros do séquito ladrão de Sócrates deliciam-se com a hipótese de voltar ao poder.

Durante anos o Estado foi roubado. Pelos que roubaram muito e pelos que roubaram pouco. Os que roubaram muito não os ouviremos, com a excepção do senil Mário Soares.

Deve haver gente que acreditava que o empréstimo da Troika tinha sido concedido para manter as coisas como estavam. Que os sacrifícios eram só para os outros. Nunca tive ilusões. A classe média era quem iria pagar tudo, ou pelo menos a maior parte. Pela simples razão de que são a maioria.

Mas há quem não perceba isso e ache que devia ficar isento de pagar a sua quota parte. Chagamos ao ridículo de ter gente a berrar por serviços de saúde que eram "gratuitos", porque pagos por todos, e ache agora que deve ficar na mesma enquanto se tributam os "mais ricos" para poder sustentar o mesmo estado de coisas. Só que esse conceito de "ricos", que Sócrates pôs na fasquia dos 2500 Euros por mês, está agora perigosamente perto daquilo que é o salário médio nacional. E essa fasquia vai baixar apanhando cada vez mais aqueles que acham que nada têm de contribuir para o esforço.
E tem baixado de tal forma que gente que estava fora da faixa dos "pagantes" começou a levar pela medida grande. E não gosta. Ah pois claro, ninguém gosta de perder aquilo que tinha.

A medida da TSU é uma parvoíce sem sentido. Abriu uma brecha dificil de fechar entre a população e o governo, entre o PSD e o PP. Mas não tira a legitimidade ao governo para tentar resolver a situação nem pode ser argumento para que se queira por de volta quem fez a maior merdice que este país já viu.
Dizia um dia destes Clinton num seu discurso na convenção democrata:
"what republicans are saying is that Obama didn't clean the mess that they left in 4 years. So we should fire him and put them back in"

Isto é precisamente o que o PS tem a distinta lata de dizer. Mas que o digam não me surpreende nem me preocupa. Começo a ficar preocupado quando vejo gente, que de certeza não dá muito uso aos neurónios, dizer que o governo se devia demitir ou que Cavaco devia convocar outras eleições.
Não fazia ideia que houvesse gente tão estúpida e tão toldada pelos seus interesses pessoais que prefira ver um país na ruína porque acha que chegou ao limite do sacrifício. É duma curteza de vistas exasperante.
É caso para perguntar se acham que o PS ou outro teria alguma alternativa ao garrote fiscal e ao cumprimento das condições impostas por quem nos empresta dinheiro.
Prefere decerto ainda mais sacrifício e miséria real. Se isto não é ser estúpido não conheço melhor definição.