A protecção dos mais fracos

O nosso sistema fiscal é resultado de cortes e recortes determinados pelos mais diversos pânicos.
A cada PEC, a cada esforço fiscal a carga tem sempre recaído sobre os mesmos, de uma forma que acabará por tornar o país numa espécie de república socialista igualitária.

Se atendermos ao facto de que aproximadamente 58% das pessoas não pagam IRS neste país percebe-se até que ponto a minoria tem pago todas as necessidades de receita de um país atravessado de forma constante por larápios mais ou menos "prestigiados".

Mas dos pagantes, 17,26% de todos os contribuintes significam 87.6% de toda a receita de IRS.

De cada vez que existe uma alteração de IRS acaba por ser a magra fatia dos que já pagam de forma significativa a ter de pagar ainda mais. Porque há uma quantidade enorme de gente que pura e simplesmente não paga.

Por ser politicamente correcto ninguém se atreve a contestar este grupo "dos que podem mais". Na verdade esse grupo pode cada vez menos e os frutos do seu trabalho são cada vez mais comprimidos para que os que já não pagavam possam continuar a ter o mesmo.

Sei que neste grupo de 58% estou a incluir muita gente que não paga imposto porque não tem receitas sequer ou porque as tem tão baixas que nem são abrangidos por nenhum escalão de IRS.
Mas recuso-me a acreditar que não haja gente neste enorme grupo que pura e simplesmente declara rendimentos muito abaixo daquilo que aufere.
Podem fazê-lo os profissionais liberais, que há uns anos apresentavam um chocante valor anual médio declarado, podem fazê-lo os empresários que usam os recursos das empresas declarando-os como custos e todo um sem fim de gente que tem forma de simplesmente não declarar os seus rendimentos de forma "legal".
Olhemos para o exemplo de Sócrates que declara 40.000 Euros num ano. Numa altura em que sabemos que os seus gastos mensais são certamente acima dos 10.000 ou 15.000 Euros.

A dura verdade é que são sempre os mesmos a suportar todas as necessidades de financiamento do Estado. Para poder continuar a sustentar um Estado Social que é cada vez mais inviável.
Mais ainda, dizem a este grupo que a coisa está tão má que vão ter de plafonar as reformas e em caso de desgraça vão ter de receber um subsídio de desemprego que é uma fracção mínima daquilo para que pagaram toda uma vida de trabalho.
Ou seja, este grupo de "vacas leiteiras" andou anos a pagar aos que pouco contribuíram para quando chegar a sua vez lhes dizerem que o dinheiro acabou.

Dizia alguém que o capitalismo é o sistema de distribui a riqueza de forma desigual e que o socialismo é o sistema que distribui a miséria de forma igual por todos.

E é precisamente neste modelo socialista que este país baseia toda a sua política fiscal. A classe média, que ainda vai sustentando o consumo interno, fica num ponto de ser tão miserável como todo o resto. Um colapso económico nestas circunstância é mais ou menos evidente.
Não se vão vender mais carros, casas, deixa de haver consumo nos restaurantes, no comércio no turismo etc etc.

A pressão fiscal é de tal forma absurda e de tal forma desigual que chegará o ponto em que não passaremos de um país de miseráveis.
Estranho é que chamem a isto liberalismo. Isto parece-se cada vez mais com comunismo. É a colectivização da miséria.

Já é mais vantajoso não ter propriedade nenhuma. Ter casa e pagar toda a carga fiscal associada é uma tolice. O problema é que se todos fizerem o mesmo também não haverá casas para arrendar porque ninguém quer ser proprietário de uma casa para ficar com duas ou 3 rendas por ano depois de pagar tudo o que deve ao Estado.

Mais vale ter o dinheiro no banco e pagar a taxa liberatória por muito alta que seja. Será sempre mais baixa do que declarar as rendas em sede de IRS como hoje acontece.

A cegueira da nossa fiscalidade pode ser a causa de um sistema completamente disfuncional e quase impossível de reverter.

E se um governo percebe que ao aumentar a carga fiscal já chegou ao ponto em que vai ter quebra de receita, como é possível que não tenha para tentar outras soluções?
Como é que se pode propor uma medida de "laboratório" como a TSU e não se tentar fazer algo pelo qual já se clama há anos - um choque fiscal. Que nem é assim tão de "laboratório" como a primeira?

A cegueira e o bloqueio mental em que os nossos governantes laboram há décadas vai ser a razão da nossa extinção. Como sociedade e como país.

Uma pequena percentagem da população anda há anos a alimentar os que não podem e todos os que roubam desalmadamente os cofres públicos. Quando é preciso ter uma ideia, não podemos lixar os que roubam porque há uns "contratos". Não podemos lixar os que não têm porque não ia parecer bem. Então lixam-se os de sempre. Os que pagam e não podem fazer nada para fugir.

Digam agora a essa estreita faixa de contribuintes que ainda vai ter de achar que o dinheiro é bem empregue nas Fundações Mário Soares, ou a Casa da Música. Ou que faz todo o sentido  fazer uma 3ª auto estrada para o Porto em regime de PPP. Ou que o investimento do Aeroporto de Beja foi uma coisa sensata.

Os que pagam, fazem-no para que todo um universo de parasitagem e roubalheira possa continuar a acontecer. Sem isso, os pensionistas receberiam mais e teriam uma vida muito mais condigna, não seria preciso racionar medicamentos nos hospitais nem seria preciso reduzir as ajudas aos deficientes.
É este o grau de roubalheira a que se assiste neste país. E como não chegava contraiu-se dívida no estrangeiro. Para o Estado financiar alguns destes casos loucos empenhando a receita a 10, 20 ou 30 anos

Maldito país gerido por imbecis e ladrões. Maldito país.