A estátua

Este é mais um dos tais casos em que se critica o resultado e não as causas.

Jorge Coelho, qualificadíssimo CEO da Mota Engil afirmou há algum tempo que quem conseguisse reverter a situação endémica de prejuízo operacional das empresas de transportes merecia que lhe fosse feita uma estátua.

De facto a tarefa não é fácil. Empresas habituadas a um saco sem fundo, enquistadas de péssimos hábitos e de péssimos gestores são difícilimas de recuperar. Ainda mais quando se sabe que a actualização tarifária ficou sem ser feita durante anos a fio.

Não é liquido que as empresas públicas de transportes tenham de dar lucro. São um serviço público que visa proporcionar acessibilidade a todos os cidadãos e isso tem custos que podem ter de ser suportados pelo OE.

Mas o problema destas empresas vai muito para além disto. A CP, Metro do Porto, Carris e Metro de Lisboa contraíram empréstimos em valores absurdos. Talvez para suprir a falta de dotações estatais para investimento ou modernização da rede, mas a verdade é que muitas delas estão numa situação de não conseguir sequer pagar as tranches desses empréstimos que estão a vencer.

A CP por exemplo invoca investimentos na rede para a contração de dívida que foi fazendo ao longo dos anos. Estranho que mesmo assim a cobertura geográfica da rede se tenha reduzido substancialmente mas não sou um especialista de ferrovias.

Quando este governo entrou em funções encontrou 18.000 milhões de dívida no sector. Prejuízos operacionais crónicos. Juros e tranches de empréstimos a vencer. Um cenário de perfeita catástrofe.
Perante o que se sabia, voltar a situação era de facto uma tarefa impossível.

Se bem se lembram houve uma gritaria dos diabos por causa da supressão de carreiras, de limite de horas para certas carreiras e subida de tarifas. Tudo isso aconteceu.
Como é hábito temos os arautos da esquerda a resistir a toda e qualquer intervenção com o pretexto da desigualdade, do limite de acesso aos serviços e até de agenda ideológica. Como se por um passe de magia se pudesse resolver este tipo de problemas deixando tudo ficar como está.

As alterações terão dado algum resultado. A atenuação dos prejuízos operacionais é uma realidade bem patente. Isto depois de o governo ter avançado com o pagamento de tranches de empréstimos a vencer no valor de milhões largos de Euros.

A Carris e a Metro de Lisboa conseguiram entrar no positivo (operacional) ficando o Metro do Porto e a Transtejo ainda abaixo da linha de água.

Se este tipo de resultado não tem mérito não sei o que terá. Pagamos mais pelos passes  pelos bilhetes é certo. Mas num país virtualmente falido é preciso fazer alguma coisa para sair do buraco.Se mantivermos na mesma tudo o que é operação deficitária que pesa no OE nunca mais saimos de onde estamos. Agravado de juros pela passagem de tempo o que torna tudo muito pior.

Nas redes sociais e nos jornais a ironia do Secretário de Estado dos Transportes é passada como arrogância e fortemente criticada.

Mas vejamos a coisa por outro prisma.
O CEO da Mota Engil, que deverá ser alguém com capacidade para encontrar soluções inventivas para as crises afirmou que era um tarefa impossível. Se alguém conseguisse deviam eregir-lhe uma estátua.

Isto diz-nos imediatamente que se Jorge Coelho, que já foi ministro, estivesse a liderar um processo destes falharia estrepitosamente. E só não o faz na Mota Engil porque no seu cargo dourado não tem de fazer rigorosamente nada.
Haverá profissionais competentes na Mota Engil que tomam as decisões com que sua eminência concorda a posteriori.

Se Jorge Coelho tivesse problemas difíceis ou polémicos para resolver faria como sempre faz qualquer "bom" político. Nada. Nada que perturbe o povo eleitor que depois vota neles.
Preferem ver o mundo colapsar em troca de mais uma eleição ganha. E porquê? Porque uma eleição ganha é acesso ao poder e por atacado ao dinheiro sem fim que esse poder pode significar.

Esta é a mentalidade de Coelho e de muitos outros políticos incompetentes que têm passado pela nossa política.

Onde é que pessoas da craveira dele e de Vara ou de Fernando Gomes poderiam exercer os cargos que exercem se não fosse por favor político?
Jorge Coelho pode até estar convencido que chegou ao lugar onde chegou por mérito. A cada um o seu grau de alucinação. A verdade é que Coelho é um básico inculto e com esperteza saloia. Um tipo que é nomeado CEO duma empresa da dimensão da Mota Engil que teve de aprender inglês à pressa para não ser escandaloso.

A ironia do Sec de Estado dos Transportes é uma flechada certeira no coração do monstro xuxa e de todos os seus membros. É a confirmação clara de que eles são maus e estão convencidos que não há ninguém melhor.
Bastou um ano. Um ano para reverter a merda interminável que eles fizeram no sector durante anos.

Ora façam lá uma estátua ao homem. Mas não a Passos Coelho. Aqui o mérito é de Àlvaro Santos Pereira.

De bronze e de preferência num sítio visível.
Mandem a conta ao Coelhone que com o que o gajo ganha deve poder pagar isso sem pestanejar.