Este PS não aprende nada

Há um conjunto de problemas que todos parecem saber identificar.

Um deles, o peso do Estado, é quase consensual se retirarmos a esquerda mais radical sempre desejando que o Estado se aproprie de TODA a riqueza do país. Para eles nunca chega.

Mas o PS reduzido a um mero vapor ideológico desde Mário Soares regressa de vez em quando a um conceito de país e de sociedade que é manifestamente impraticável.

Foi ao longo de uns bons anos que diversos governantes acumularam ineficiências, seja pela manutenção de um status quo "socialista" seja pelo crescimento do Estado em prol das suas cortes oportunistas e sempre desejosas de subir na vida com pouco esforço.

O Estado engordou para lá do que era aceitável. Quase tudo o que é empresa pública acumulou passivos e dívida que fariam corar qualquer sociedade evoluída e, no entanto, a nós isso parecia normal.

Poderia dizer-se que isso eram os custos necessários de certas funções do Estado, mas a dura realidade é que o passivo se acumulava em troca de uma qualidade miserável que não servia minimamente os utentes. Servia sobretudo quem trabalhava nesses sectores do Estado.

Conseguimos a proeza de ter prejuízos numa petrolífera quando ela era do Estado. Vários anos a fio. Façanha única no mundo, acrescente-se.

Nos transportes, de má qualidade duma forma geral, o Estado parecia determinado a destruí-los tornando-os em "alternativas" a nunca considerar.

A empresas de transportes públicos de Lisboa e Porto acumularam dívida a uma razão tão alta que hoje nem são sequer atractivas para ser privatizadas. As receitas nem sequer cobrem os custos operacionais o que as torna em operações falidas à partida.

A nossa ferrovia foi destruída. Sem investimento foi fechando linhas e ramais. Foi-se reduzindo à insignificância e perdeu para o transporte rodoviário o pouco que restava. Foram opções conscientes e certamente determinadas por lobbies.

Mas a realidade é que tal como está o país este Estado não pode continuar a viver como até aqui.
Não há qualquer razão para que o Exército compre Leopard em segunda mão à Holanda que percebeu que não precisa deles (note-se que a Grécia fez exactamente o mesmo). Mesmo que tivéssemos M-60 (um tanque completamente obsoleto que viu o seu último uso na primeira invasão do Iraque na retaguarda) não há qualquer justificação em comprar 37 Leopard 2A6 à Holanda. E depois para transporte de tropas temos... Chaimites. Obsoletos em 1970...
Tal como não há qualquer justificação em comprar submarinos para uma marinha que não tem dinheiro para fazer manter a sua frota de superfície a funcionar.

Não há qualquer razão para que o Estado português sustente uma rede de institutos, obervatórios, comissões e fundações que nada produzem a não ser lugares de chefia para o entorno partidário do momento.

E é num momento de necessidade que urge acabar com isto. A necessidade já existia antes da crise. Mas agora é absolutamente incontornável.

O PS não parece estar muito receptivo a esta opção. Não lhe interessa despojar o Estado dos incontáveis lugares que pode vir a preencher quando volte para o poder.
E vai daí recusa este consenso dizendo que não vai ajudar à destruição do Estado Social. Como se fosse o Estado Social o único a ter sido posto em causa pela sua governação ou como se fosse a única coisa que o Estado tem como obrigação.

Há várias prioridades claras na função do Estado. A segurança, a justiça, a educação, a cultura e a saúde.

Existem outros aspectos que é necessário assegurar. Mas não de uma forma em que seja deficitário fazê-lo quando um privado o faria de forma lucrativa. Como se pode justificar a má qualidade de serviço da CP por oposição à Fertagus? Porque é que uns passam a vida a fazer greves e a causar disrupções na vida dos cidadãos e outros cumprem os horários ao minuto?
Dirão que a Fertagus recebe um valor do Estado para assegurar o serviço sem prejuízo. É verdade. Mas o serviço nunca falha. E a CP falha constante e clamorosamente. Trata mal os utentes ao ponto de os deixar comprar bilhete sem lhes dizer que vai haver mais uma greve (a 32ª do ano) por uma razão fútil qualquer.
E fazem-no porque ao abrigo do estatuto de funcionários públicos sabem que são intocáveis.

A parasitagem e maus hábitos de muitos na função pública escondem do público os bons elementos que a função pública tem no seu seio. E fazem com que um povo esmagado por impostos para pagar estes desmandos não consiga distinguir entre o bom que a função pública tem e o incontável lixo que por lá espera a reforma.

Enquanto o Estado não sacudir toda esta parasitagem e repensar um Estado eficiente e ágil, o país terá sempre de sustentar todos os desmandos e todas a ineficiências dentro de si.

Esta situação faz com que não possa haver o reconhecimento dos bons, porque uma mania comunista igualitária na função pública faz com que alguém bom ganhe o mesmo que um parasita qualquer. E isso acaba por tornar todos maus. Maus e com a vida assegurada acrescente-se.

O PS ainda não percebeu que ao estar de fora duma REFUNDAÇÂO do papel do Estado fica na mesma posição que o PCP e o Bloco ao morder a mão de quem nos empresta dinheiro para sobreviver. Foram esmagados nas eleições. E o PS também se tramou a valer apesar do filho da puta de Paris passar a campanha a falar no Estado Social. Não lhe valeu de nada porque existe a noção de que o Estado Social que o PS defende (mas não pratica) é inviável e impossível de pagar.

Dizia ontem Galamba que em 2011 o país não estava na bancarrota. Teve "um problema de liquidez" segundo ele. Pois eu diria que o problema de liquidez era mesmo a antecâmara da bancarrota, ou seja não poder pagar os empréstimos contraídos e nem sequer conseguir pagar salários de funcionários e pensionistas num horizonte de 3 ou 4 semanas.

Se o país não se "repensar" vai estar constantemente com "problemas de liquidez" para usar o eufemismo de Galamba.
E o PS tem de perceber que se não quiser fazer parte da solução é parte do problema. Problema, aliás, que ele ajudou a chegar a um ponto de não retorno.

Tomar decisões por despeito ou porque se passa a vida a estar "indignado" é exactamente o contrário do que se precisa num líder. Cabeça fria, realismo e a capacidade de perceber quando é tarde demais.

Só uma irrelevância política como Seguro poderia agir assim. Achar que o inimigo é aquele com quem negociou e assumiu compromissos gravosos para o país. Achar que se pode afastar daquilo que fez e deixar  o problema para os outros resolverem enquanto se senta na plateia a insultar e vaiar os outros.

O PS não aprende nada.