A substância do vácuo

Somos mesmo um país de comentadores vazios.

Não há um acontecimento, um discurso ou umas declarações de alguém que não sejam escalpelizadas por um exército de desocupados, que num tempo passado ninguém sabia quem eram, e que agora por força da agenda mediática passam a vida pelas televisões e rádios a "cagar" sentenças.

Eles são politólogos, eles são jornalistas, políticos, especialistas de marketing, actores de segunda categoria.

Eles são um perfeito retrato das razões pelas quais é impossível fazer o que quer que seja neste país.

Os académicos, perdidos pela Universidade desde os seus 20 e poucos anos que nunca conseguiram verdadeiramente sair da redoma protectora do mundo da teoria perfeita, aparecem agora a analisar tudo e todos.

Há um que me irrita especialmente. Falava ele hoje no forum TSF.

Não me dou ao trabalho de saber o nome dele, mas conheço-lhe a voz e a barbinha rala e branca.

E não me esqueço das análises que ele fazia nos debates entre Sócrates e Ferreira Leite.

Este indivíduo coloca sempre as coisas segundo um ponto de vista. Um e só um. A imagem.
Dele são as considerações absurdas acerca da imagem de Ferreira Leite e Sócrates durante a campanha para as eleições de 2009.

Sócrates ganhou, bem entendido.
E nós perdemos. E a um comentador, politólogo e pessoa para uns cinquenta e tais a única coisa que lhe ocorre dizer acerca dum óbvio aldrabão é que a imagem depurada e calculada (para aldrabar).

Passado pouco tempo o que ele dizia de Sócrates era bem diferente. Já não era a imagem. Foi dos que se juntou ao grupo de hooligans para pontapear Sócrates quando ele estava no chão.
Um dos invertebrados que lambe o rabo ao poder e faz o favor à oposição quando acha que ela vai ganhar.

Hoje, no forum TSF voltou ao seu antigo EU. Dizia esta luminária que apesar de Passos dizer o que disse acerca das pensões mais altas, sem justificação em descontos, não vai ganhar popularidade.

Confesso que tive vontade de o afogar. O que ocorre a este imbecil numa altura em que temos a segurança social em ruptura, num país falido, é que Passos esteja a fazer e a dizer isto para aumentar a popularidade.
Existirá alguma análise mais superficial do que isto? É preciso ser politólogo (ou lá que merda é essa) para fazer este tipo de apreciações?

A necessidade de reduzir os custos do Estado acontece pelo desbarato sem controlo dos governos do senhor de quem ele gabava a imagem.
A divida que arrastamos é imensa e duplicou nos seus mandatos.
Querer esquecer o papel que a dívida tem nas nossas opções do presente e do futuro é como querer esconder um elefante dentro do armário.

Diz Medina Carreira há muito tempo que sem cortar nesta áreas o país é inviável. Mudou agora alguma coisa o seu discurso. Estranho para quem foi sempre tão frio e analítico.
Mas pelo menos Medina Carreira nunca se perdeu em merdices nos seus diagnósticos. Nunca andou com estas tretas da imagem do político.

A valorização da imagem, do perfil, de coisas intangíveis e vazias nos personagens da política levou-nos ao ponto em que estamos.
Um palminho de cara e dizer as maiores aldrabices com convicção trouxe-nos a uma era na política em que o vazio substituiu a substância. Com o beneplácito de todas estas eminências pardas saídas das Universidades e sabe-se lá de onde.

São depois os mesmos que se queixam da qualidade dos políticos que temos quando eles próprios valorizam apenas a superfície.

O que me parece é que a degradação da vida política se acentuou quando começamos a fazer um circo à volta de tudo o que se diz ou faz, a comentar o que é importante e o que não é. Quando começamos a inventar polémicas para abrir noticiários.
Criámos um tipo de político novo. O tipo de político que tem de se preocupar mais com a forma como aparece na TV em vez de ter realmente competência técnica e tomates para decidir.

Foi isto que a era da mediatização trouxe à política - o lixo. O lixo dos políticos e o lixo da sociedade "bem pensante" e "bem falante" que todos os dias nos entra pela casa dentro.