Sem um pingo de vergonha

Hoje no Frente a Frente da SIC Notícias esteve António Capucho e aquele senhor do PCP que fala com grandes certezas acerca de tudo, a ponto de ter achado uma indelicadeza o ministro alemão das finanças não ser ter levantado para falar com Vitor Gaspar (lembram-se?). Já e conhecido que esse ministro é paraplégico desde 1991 ou 92, mas este senhor cheio de certezas nunca veio fazer o mea culpa do disparate que disse em directo.

Isso não servia decerto os seus interesses manipuladores da realidade.
Mas adiante.

Achei Capucho muito suave com o Governo e como é hábito muito defensor do PR. E estranhei.

Desde há uns tempos para cá, depois de Passos o ter mandado bugiar na sua candidatura a Presidente da AR, Capucho não se cansava, tal com Pacheco Pereira, de criticar de todas as formas e feitios a governação do seu próprio partido.

Apesar de ter dado a facadinha da ordem, as coisas foram muitíssimo mais suaves. E não percebi porquê. Estaria ele apenas a querer fazer pirraça ao senhor do PCP? O que seria?

Eis senão quando vou ao site do SOL e vejo que Capucho quer ser o Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.
O detalhe, o nexo de causalidade, está no facto de ser por nomeação do ministro da Defesa.

Depois de ler calculei que a suavidade de hoje poderia ter a ver com este "pequeno" detalhe.

Capucho invocou problemas de saúde para abandonar o cargo para o qual tinha sido eleito na Câmara de Cascais.
Desde esse dia não se tem cansado de tentar subir na hierarquia do Estado. A sua zanga começou por ter posto o lugar de conselheiro de Estado à disposição de Passos Coelho no início de 2011 (as tais razões de saúde) e isso ter sido de facto aceite em Agosto de 2011.
Apesar de invocar as razões de saúde o que o "aborreceu" foi ter sabido pelos jornais...

Pouco tempo depois já ansiava por um lugarzito ainda mais importante. O de presidente da AR.

Mas mais uma vez Passos trocou-lhe as voltas. E ele entrou numa cruzada anti Passos de meter dó.
É daquelas pessoas que prefere esfaquear um colega de partido por questões pessoais pouco se importando com questões maiores. Uma coisa destas define um homem. E define-o da pior maneira.

Assim não me surpreende que ele comece a ser mais brando com o Governo. Afinal, o ministro da Defesa nunca escolherá alguém que Passos não aprove. E Passos pode muito bem não aprovar Capucho.

E honra lhe seja feita, Capucho merece levar uma terceira chapada. Aliás, merece levar uma quarta, uma quinta e por aí fora.

Não há coisa mais triste do que esta gente que majestaticamente abandona a "vida política" para ver se sentem falta deles. Quando ninguém a sente, começam a por-se em bicos de pés para tentar regressar.
O melhor que podiam fazer era remetê-lo de volta para onde ele próprio foi no início de tudo.

A menos que lhe tenham posto um coração novo em folha ainda deve ter os problemas de saúde.
Ou será que como Presidente da Cruz Vermelha anseia por cuidados médicos de qualidade sem pagar as taxas moderadoras?