A construção civil é a cura para todos os males

Já dizia Cavaco pelos idos 90 que a indústria mais importante do país era a construção civil.
De uma certa forma até tinha razão. O país tinha destruído em tempo recorde todos os sectores produtivos da economia.

Rebentou com a mineração, com as pescas e com a agricultura. Não deixou quase nada de pé. Sobraram durante alguns anos os texteis até aos acordos entre a UE e a India, Paquistão e China. Sobrou o calçado. Sobrevivendo do segmento mais alto, uma vez que o calçado barato não conseguiu resistir à investida dos países onde se paga o trabalho com uma malga de arroz.

A nossa maior indústria foi, como em muitos outros países a razão da nossa morte como economia. E foi também para os Estados Unidos e para a Espanha.

3 países que por razões diferentes se espetaram pelo chão adentro com a aposta mais insana que se podia fazer.

O colapso da indústria financeira acontece pelo crédito à construção e à habitação. Financiou-se a valores super inflaccionados habitação para todos. Que hoje não podem pagar e percebem que se venderem não conseguem sequer pagar ao banco o que lhes falta de empréstimo.

Causou corrupção sem fim. Alterações de PDM's para transformar terrenos agrícolas em urbanos. Isto convinha também às autarquias que iam buscar em licenças, IMI e taxas municipais aquilo que nunca poderiam ter de outra forma.

Corrompeu-se, inflaccionou-se e vendeu-se a ideia ao incauto que agora podia ser feliz a viver numa selva de betão, na sua própria casa. Sua ao fim de 35 anos. Num prédio onde há dezenas de proprietários que não têm dinheiro para sustentar as obras que os prédios precisam. Que não têm dinheiro para o IMI e para o condomínio.

Mesmo assim o crescimento do PIB foi uma desgraça. Negligenciável. De tal forma que a dívida disparou para poder sustentar as obras de regime e o tão falado Estado Social.

Quando o sector colapsou tornou-se responsável por um volume de desempregados sem paralelo com qualquer outro sector. Foi ele também responsável pela emigração em massa, legal e ilegal, que assolou este país durante o boom.

Destruiu-se a paisagem, produziu-se um património edificado de nível terceiro mundista. Que está agora vazio.

Mas o que Seguro propõe é reavivar o sector com recuperação do património urbano.

Para quê? Para vender casas recuperadas? A quem? Com que dinheiro?

Esta gente não entendeu que o paradigma tem de mudar. Radicalmente. A construção terá de ser uma actividade que como qualquer outra sirva para fazer face às necessidades. Não se pode construir casas de habitação até partir, mantendo os preços altos quando não há procura. Ninguém as vai comprar. Acabou
A renovação ocorrerá nos casos em que as casas de habitação forem precisando de obras. Acabou a festa de comprar em ruínas para recuperar e vender com ganhos enormes.
Acabou.
Será uma sorte se for possível fazer obras nas casas arrendadas para poder incrementar as rendas. Isto porque o bloqueio à actualização das rendas continua a ser a maior razão para a escassez no mercado de arrendamento. Porque a maior parte dos senhorios não pode sequer sonhar em fazer obras com o que ganha ou pode vir a ganhar com as rendas.
Acabou.

Metam numa vez nessas tristes cabeças que a construção civil nunca mais poderá voltar a ser o que foi nos 2000. Foi a vaca leiteira que deitou as vedações todas abaixo e espezinhou tudo.

Qualquer fenómeno levado ao limite como aconteceu com a construção civil, destrói um país. Foi o subprime nos EUA e o boom imobiliário, foi o nosso e foi o de Espanha. Um país de gatas e dois na ruína pela cegueira do lucro fácil e imediato.

Mas é isto que Seguro defende. Não me espanta. Ele é um estúpido sem soluções. Só podia pensar nestas aberrações como saída para a crise.
A crise do país é estrutural. Não é um azar da crise "internacional". Os nossos governantes criaram esta situação.

Criaram os BPN's suportados por um sector imobiliário mafioso. Criaram o crédito mal parado aos bancos por facilitar ao extremo a aquisição de casa própria. Banco que na cegueira do bónus imediato foram tão estúpidos que se meteram a eles próprios em buracos sem fundo.

Na construção civil nada será como dantes. Acabou.
Repensem a coisa, ajustem a dimensão do mercado e controlem o stock de habitação como se controla o stock no armazém de uma fábrica.
Esse é o papel regulador do Estado. Não é mais nenhum.