Propostas sérias...

Ao "passear" pelo site do Público fui surpreendido com uma coluna de opinião de  uma senhora que é membro da comissão Política do Comité Central do PCP.

Até me parece bem a pluralidade na informação e até me parece sério que se diga que alguém pertence a órgãos partidários para se perceber que as opiniões devem ser entendidas nesse contexto.
Infinitamente melhor do que ter gente supostamente independente que a única coisa que sabe fazer é encontrar males de um lado do espectro político negando qualquer mal do outro lado.
E infelizmente a imprensa está pejada de gente dissimulada,que não declara as suas ligações ou simpatias, fazendo-se passar por aquilo que não é.

Portanto, do ponto de vista de ter uma pessoa com estas ligações e engajamento político a escrever uma coluna de opinião num jornal parece-me bem. Parece-me ainda melhor que o declare.

O que eu acho caricato são as opiniões.

A dado ponto diz o seguinte:
O PCP tem apresentado propostas sérias e de grande alcance ao povo português:

– A imediata renegociação da dívida pública nos seus prazos, juros e montantes;

Não deixa de ser curiosa a crença de que numa renegociação se consegue tudo o que se quer. Eu acho que o mais certo é que se partissem para esta renegociação não conseguiriam nada do que querem. Partir do pressuposto que uma renegociação se sai com tudo o que se propunha à entrada ou é infantil ou é de quem não sabe o que é negociar mas sim impor. E quanto à capacidade de impor que Portugal tem ela é nula.

– O aumento dos salários, das pensões e dos apoios sociais, para corrigir as desigualdades na distribuição da riqueza e para que as pessoas tenham mais dinheiro para consumir e fazer crescer a economia;

Em primeiro lugar a capacidade de aumentar salários no privado com a excepção do salário mínimo não cabe ao governo. Por aí estamos conversados.
O aumento no privado não vai acontecer por magia. As empresas nem numa situação de mercado eufórico o fariam. Imagine-se num mercado deprimido ir propor o aumento generalizado de salários. Enlouqueceram?
E no público? Então o nosso maior problema é precisamente o que se gasta com salários e pensões (numa enorme percentagem) e que levou a contrair dívida para sustentar isto. Infelizmente reduziu-se a toda esta gente o seu rendimento para equilibrar da forma possível as contas e despesa do Estado. E agora ia subir-se tudo isto para "aumentar o consumo interno"?
Os anti sistema querem prolongar o sistema que criava riqueza fictícia à custa de consumo. Com recurso ao crédito.
O que levou ao colapso do sistema...
Nunca pensei ver o PCP a defender a continuação do consumo como motor da economia.
A consequência de todo este disparate foi o crédito desmesurado que agora resulta em insolvências familiares em barda. E com essas insolvências as casas que se perdem, os carros que se vão e as penhoras nos salários.
Estão parvos estes tipos do PCP?


- Pôr Portugal a produzir, na agricultura, na indústria e nas pescas, substituindo importações por produção nacional, controlando os custos dos factores de produção, facilitando o acesso das PME ao crédito através da Caixa Geral de Depósitos;

Nesta estou de acordo completamente.
Mas mais uma vez isso não depende de uma "vontade". Os agricultores estão descapitalizados e são-lhes impostas restrições severas um relação ao que podem fazer. A rentabilidade do pequeno produtor é marginal e muitas vezes um desaire com o clima deita tudo a perder por anos.
Nas pescas a nossa frota foi reduzida a nada por "incentivos" da EU. reavivar uma frota não custa cinco tostões nem leva um ano. E para o fazer quem investe? Quem tem a capacidade para fazer isso?
E podem dizer que alertaram para o facto. É verdade. Mas aconteceu e no ponto em que estamos hoje é perfeitamente irrelevante a oposição que o PCP fez na altura. Tal como é irrelevante a minha discordância com o abate da frota pesqueira nacional.
A realidade pura e simples (realidade, um conceito desconhecido para o PCP) é que o investimento no sector das pescas é impossível nos dias que correm. As quotas de pesca por espécie tornam inviável qualquer grande investimento em nova frota pesqueira.
O controlo dos custos dos factores de produção é mais uma utopia de uma economia planificada.
Impor preços tabelados de combustíveis, adubos, rações etc etc é completamente utópico nos dias que correm. A última vez que isto foi feito com os combustíveis foi com um senhor chamado Guterres. Que garantiu o preço dos combustíves num determinado nível para pagar por outro lado compensações às petrolíferas. Ou o caso do preço dos transportes públicos que criou a maior dívida de todos os sectores da economia de que há memória. Ao todo 18 mil milhões de dívida do Estado. Quem a paga? TODOS.
Não estamos na USSR em que estas coisas eram ditames centrais.
Esta gente que mal viveu com o regime da USSR colapsado nos anos 90 nem sequer entendeu em que mundo vive. Gostava de ver estes artistas a meter as mãos à obra e a investir na agricultura com os riscos que isso implica.
Perfeitamente incapazes de produzir o que quer que seja têm sempre grandes ideias para que outros trabalhem. Mesmo os agricultores falidos que têm de enfrentar uma concorrência de preços que os destrói. Querem proibir importações? De produtos da UE? E como?
Patetice anacronico-comunista de uma ponta à outra.


– O fim das privatizações e a recuperação da propriedade social dos sectores básicos e estratégicos da economia, a começar pela banca;

O fim das privatizações como?
Confisco sem compensação da banca? Mas em que planeta é que estes estúpidos vivem?
O estado terá porventura o dinheiro que seria necessário para isto? E a EU alguma vez deixava que um confisco desses acontecesse? Com as participações de bancos estrangeiros na nossa banca?
Bêbados. Estão bêbados e devem pensar que temos um arsenal de misseis estratégicos escondido com que podemos ameaçar as grandes potências.
Ou estão bêbados ou andam nos fuminhos. Chamar a isto uma proposta séria só se for a gozar. Isto é um insulto à inteligência do mais básico e estúpido português. Que eu começo a pensar que deve ser filiado no PCP a julgar por estes disparates.


– A alteração radical da política fiscal, rompendo com o escandaloso favorecimento da banca, da especulação financeira, dos lucros dos grupos económicos nacionais e transnacionais e aliviando a carga fiscal sobre os trabalhadores e os pequenos empresários;

A velha receita de por os ricos a pagar a crise.
Para cada ponto percentual de imposto que reduzissem aos trabalhadores dependentes ou pequenos empresários teriam de aumentar de tal forma a carga fiscal destas "grandes" empresas que se tornaria completamente desinteressante investir em Portugal com as cargas fiscais absurdas que teriam de ser impostas a estas empresas.
Mas como o que dizem nunca se tem de comprovar, podem continuar a dizer que é uma proposta "séria".
Estes por acaso não falam de investimento estrangeiro.
Isso seria absolutamente contrário à sua crença de que o país se deve fechar, nacionalizar tudo e ser auto suficiente. Isto deu resultados belíssimos em tudo o que foi país "socialista".
Ainda hoje a ex DDR tem assimetrias colossais para a Alemanha ocidental. O mundinho fechado que estes papagaios incoerentes tanto gostam causa mais miséria do que qualquer outra coisa no mundo além da guerra.


– A valorização das funções sociais do Estado como condição para o desenvolvimento das condições de vida;

Esta proposta é basicamente merda nenhuma. Sério? Isto? E o que é exactamente isto? Pois é o que eu disse no princípio - merda nenhuma.

– O efectivo cumprimento da Constituição da República e a intransigente defesa da soberania nacional face às imposições e condicionalismos impostos pelas grandes potências e pela União Europeia.

Já agora a parte do prólogo "do caminho para o socialismo".
A única coisa que parece com que se importam na constituição são os direitos. Os deveres não existem. Eu também sou a favor do cumprimento da constituição.
Mas uma que não proteja exageradamente certos sectores da sociedade em detrimento de outros. Estou a lembrar-me do caso dos despedimentos na função pública que criaram toda uma multidão de calões que pulula na nossa função pública.
E que desagrada profundamente aqueles na função pública que trabalham como escravos para sustentar os "colegas" que passam anos sem fazer nada. Mas que no fim levavam os mesmo benefícios, as mesmas promoções automáticas e as mesmas avaliações.
Se numa empresa um trabalhador tem de dar provas de ter capacidade para manter o seu emprego, porque é que um tipo que passa anos a fio sem fazer nenhum não pode ser despedido? Porque é que é uma chatice de todo o tamanho por na rua um tipo que claramente não cumpre com as suas obrigações na função pública? Porquê?
É esta a constituição que querem ver cumprida ou uma em que aos direitos correspondam deveres?
Já vi as propostas sérias do PS e agora as do PCP. As do BE não andam muito longe deste estado de alienação e podiam ser perfeitamente decalcadas destas.
São estas a alternativas à governação que temos?
Isto não passa de conversa para mentes simples. São sound bytes para repetir entre duas minis no balcão de uma tasca qualquer.
Isto é conversa de espertos para enrolar estúpidos. Merece tanto crédito como o folheto dum astrólogo ou de uma cartomante.
Parece-me cada vez mais que o problema desta gente se centra em duas grandes áreas:
Necessidade despudorada de conseguir apoio através de mentira (nada que não seja normal em política)
Limitação intelectual óbvia.
Gente como esta é absolutamente medíocre quer do ponto de vista científico quer do ponto de vista intelectual. Recitam uma cartilha que não entendem nem nunca se sentam para fazer "contas" e perceber como tudo isto não funciona.
Patético