Sem futuro nem presente

O Partido Socialista apresentou a moção de censura. E que moção. O documento é digno de ser lido. De verdade, leiam e meditem por instantes que tipo de cabeças pode estar por detrás da redação de tal peça.
O PS sempre se opôs à política de austeridade do Governo, alertando para as consequências na destruição da economia e do emprego. O PS sempre foi claro na rejeição da política de empobrecimento e de emigração como instrumentos para a melhoria da competitividade, mostrando a sua completa incompatibilidade com o mundo desenvolvido em que nos integramos e com o país moderno que ambicionamos ser. O PS sempre se bateu pelo diálogo político e social, afirmando em todos os momentos o seu carácter absolutamente central na resposta à crise.
Por último, o PS sempre se bateu por uma participação forte e ativa de Portugal na negociação europeia, com vista à superação da gravíssima crise que a Europa atravessa, mas também à melhoria constante e sistemática do nosso processo de ajustamento.
Os portugueses não aguentam mais. Ao contrário do que diz o Governo, Portugal não está na direção certa. Chegou a altura de dizer: Basta! Chegou o momento de parar com a política de austeridade que está a empobrecer o nosso país e a exigir pesados sacrifícios aos portugueses sem que se vejam resultados. Os portugueses cumpriram, mas o Governo
 A primeira frase é de facto verdade. O que torna tudo muito mais estranho. O PS deixou o Governo com o país arruinado. E fê-lo de forma tacticista sabendo que a austeridade era inevitável.
Se ganhasse as eleições, Sócrates continuaria a mentir. A propor PEC atrás de PEC até já não poder mais. Acabaria a ter de aceitar a ajuda. Se perdesse era excelente. Deixava a batata quente para outros e poderia ele, ou o seu sucessor, bradar contra a austeridade sem qualquer autoridade moral para o fazer.
A táctica foi de tal forma despudorada que aí está ele 2 anos depois a voltar para colher os frutos do esquecimento.

O único problema do PS é que ao mesmo tempo que apresenta esta moção, tem o seu líder a escrever uma carta ao FEEF a comprometer-se a cumprir o MoU. E, obviamente, todas as suas revisões, incluindo o corte de despesa que está preconizado desde a 1ª versão. O que resulta nos tais 4.000 milhões de cortes adicionais na despesa do Estado.

O PS não tem de facto alternativas. Para ele a única coisa que interessa é o poder. E agora que lhe começou a sentir o cheiro com as sondagens pretende subverter a palavra dos portugueses.
Se o Governo continua, cada vez mais isolado, a violar as suas promessas eleitorais, sem autoridade política, incapaz de escutar e de mobilizar os portugueses, a falhar nos resultados, a não acertar nas previsões, a negar a realidade, a não admitir a necessidade de alterar a sua política de austeridade, a não defender os interesses de Portugal na Europa, a conduzir o país para o empobrecimento, então só resta uma saída democrática para solucionar a crise: a queda do Governo e a devolução da palavra aos portugueses.
Pouco importa que grande parte das dificuldades que atravessamos sejam a consequência directa da sua própria actuação. Como não havia a dívida de subir se pedimos 78 mil milhões emprestados para resolver uma emergência? Como não havia de subir se o último acto do PS foi pedir mais este dinheiro?

Dois anos não é assim tanto tempo que nos esqueçamos (alguns) do estado miserável em que este Governo encontrou as coisas. As PPP's ruinosas, a Parque Escolar, a dívida monstra no sector dos transportes, as rendas abusivas para a banca e grandes empresas, a despesa não orçamentada. O relaxe generalizado. Que todo somado é uma fortuna imensa.
Mas o PS acha que tem hipóteses de cumprir as suas promessas. Que serão tão quebradas como todas as outras feitas antes deles. Como as promessas de Sócrates, ou como as de Passos.
Se um Governo caísse por promessas não cumpridas mais valia por na constituição que uma legislatura tem só 1 ano. Basta isso para as promessas começarem a ser quebradas.

O PS é um partido sem vergonha e sem memória. Transformou-se numa aglomerado de larápios, incompetentes e mentirosos. Não admira. Olhem para o líder anterior. Olhem para este. Como não poderiam estar apenas rodeados de escumalha? Quem decente estaria com eles?

Esta moção terá o destino que já se antecipa. O chumbo. Tal como terá qualquer Governo que pudesse sair de eleições antecipadas. Caso o CDS apoiasse um Governo PS perderia a maioria dos seus votantes. Voltaria a ser um partido irrelevante no espectro político.
Portas sabe-o e Seguro sabe-o também.
Seguro sabe também que o PCP não é um parceiro possível para um Governo e o Bloco tal como está nem quer ouvir falar de Seguro. A não ser que ele rasgue o "pacto de agressão". Coisa que ele nao pode fazer.

O PS preferirá esperar que uma maioria absoluta lhe caia no colo. Mas creio que desde ontem não pode contar com Cavaco. Sócrates tirou qualquer hipótese a Seguro de ser primeiro ministro. Quando a legislatura acabar, Seguro levará um pontapé nos fundilhos e será substituído por um qualquer sôfrego por poder. Um António Costa, ou mesmo Sócrates. O idiota útil cumpriu a sua função. Aguentou entre o disparate e a irrelevância. Nunca fez o mea culpa do PS.
Agora já não é preciso. Em política a memória desvanece-se ao fim de 1 ano. A herança perde a validade ao fim de 3 meses.

Estamos tramados. Mesmo bem tramados.