Remodelando

As remodelações... A solução para todos os males.
De tal forma comuns que não há governo que periodicamente não as faça. Pode nem ser porque vá haver uma mudança de rumo. É apenas porque as "pessoas" o pedem. Porque os media o pedem.

Mas com este governo chegámos a um novo patamar.
A coisa começa com os comentadores de ocasião. Começam a falar numa "remodelação" apenas porque Álvaro Santos Pereira é mau comunicador ou porque Relvas tem um curso duvidoso.

Começam depois a especular quem é que deveria sair. "Gaspar" tem de ficar assegura Marcelo. E Relvas tem de sair. Porque o caso da RTP é "uma confusão" ou porque se soube que o curso dele foi feito à custa de equivalências duvidosas.
Mais estranho ainda é pedir-se a substituição de Santos Pereira porque não sabe comunicar. De nada importa a substância. A imagem é que conta. E como são os comentadores e os media a "fazer" a imagem, julga-se condena-se e substitui-se hipoteticamente um ministro. À revelia.

Os comentadores de hoje nunca se lembraram do curso de Sócrates. A não ser um ou dois jornais (mais um do que dois) todos eles trataram o caso do curo de Sócrates com luvas. Por cobardia, certamente. Porque conheciam a forma de funcionar do personagem.

Alguém que faz pressão sobre uma empresa muito ligada à esfera pública para comprar uma estação de televisão apenas para se ver livre dum jornalista é alguém que claramente não para perante nada para destruir completamente os seus "inimigos". E todos estes comentadores preferem ser "adversários" do que ser inimigos.

Nunca nenhuma destas pessoas veio a terreiro dizer que o facto de Sócrates ter um curso completamente aldrabado era motivo para a sua demissão. Refugiavam-se em eufemismos e em conversa redonda para não ter de dizer nada. Corajosos. Gente com verdadeira espinha dorsal. O que dizem de Sócrates à boca pequena nunca tiveram a coragem de o dizer às claras.

Hoje ligamos a TV e temos um Marques Mendes a pedir remodelações, António Capucho a fazer o mesmo papel, Pires de Lima, Ferreira Leite, etc etc.

Quanto a Relvas não me parece que a coisa seja mais que um ajuste de contas da ala Cavaquista. Mas quanto a Santos Pereira a coisa cheira um pouco mal.
Se alguém tem tentado atalhar no pântano das rendas e dos negócios altamente rentáveis de empresas privadas é Santos Pereira. Apesar de todos os obstáculos tem tomado medidas de alguma monta. Talvez não consiga fazer mais porque o Estado está sequestrado por interesses de toda a ordem.
Mas é "silencioso". E na AR não se coíbe de apontar o dedo à ruinosa gestão socialista. Coisa que parece ter um prazo de validade. Aparentemente as asneiras do PS tinham um prazo de validade a partir do qual já não se pode invocar o  seu peso na nossa corrente situação.
Até a imprensa alinha nisto ajudando a branquear o passado (recente) de cleptomania Socialista.

A imprensa alterna entre o "gostar" de Santos Pereira e o achar que ele deve ser substituído. Há algo que não se percebe. Ou melhor, percebe-se bem demais. Quando chega alguém despretencioso a um lugar como este, rapidamente começa o coro de vozes a dizer que ele é "inadequado" para o lugar. Lembram-se da patetice que foi quando ele pediu para o tratarem por Álvaro? Pois aí têm...

Outros ministros acabam por ser completamente afastados destes cenários criados exclusivamente no espaço mediático. Sem qualquer correspondência com declarações ou intenções do Governo.
Os media fazem a festa, largam os foguetes e apanham as canas. Verdadeiros assassinos de carácter esquecem-se (convenientemente) do papel que tiveram na degradação do nosso país.

A dívida acumulada, o modus operandi dos nossos Governos foi "inventado" há muito tempo. Eles, todos eles, fizeram parte dum sistema que potenciou a desgraça. Não consta que tenham lutado contra este estado de coisas nem consta que o tenham feito quando o maior coveiro do país esteve em funções. Limitavam-se a criar facções que lutavam entre si numa disputa fratricida pelo poder num partido desagregado num país arruinado. Quando chegou realmente o momento de avançar para a dificílima tarefa de tentar recuperar o país com condições negociadas pelo Governo anterior nenhum destes críticos se candidatou.  Apenas Rangel, Aguiar Branco e Castanheira Barroso fizeram. Nem Capuchos, nem Marcelos, nem Marques Mendes o fizeram.
Porquê? Porque sabiam perfeitamente o que significava ser primeiro Ministro nesta conjuntura. Mas ao menos tenham a decência de o dizer. Coisa que não fazem. Talvez porque decência seja para eles um conceito desconhecido ou trocado há muito pelas coisas boas que o poder traz...

Não me espanta que um partido fora do poder faça isto. Inédito é que o faça quando está no poder.
Comparado com o disparate inconsequente de Seguro, estas declarações de segunda a sexta são muito mais prejudiciais para o Governo.

Passam a vida a acusar Passos de imaturidade. E por coisas absurdas. Muito menores do que eles próprios fizeram no desempenho de cargos públicos.
O que dizer de Capucho? Da sua mala pata com Passos por ter sido sucessivamente preterido para lugares a que se "candidatou" (melhor dizendo para os quais se pôs constantemente em bicos de pés)? O que dizer de Marques Mendes, líder passageiro que nada fez para renovar o PSD e a sua credibilidade perdida? Ele que era visto como um apêndice de Cavaco (literalmente). Conhecido como o Nódoa no Contra Informação.

E Marcelo? Porque é que a opinião de Marcelo é assim tão relevante? Do homem que aconselha livros que lhe pedem que aconselhe? Sem nunca os ler, nem sequer um par de páginas?
O que fez ele como líder do PSD a não ser um desgraçado flop? E a sua veia intriguista não tem de ser descontada na sua opinião que é tudo menos desinteressada?

O dever de reserva destas personagens desapareceu. Chegamos a um ponto em que os ex políticos são uns anjos e em que os media fazem e destroem governos como se de um prerrogativa sua se tratasse.

Estivesse eu no lugar de Passos e a cada sugestão de remodelação responderia com a firmeza absoluta de não a fazer. A não ser obviamente que algum dos membros do seu Governo tenha de sair do lugar por razões de força maior ou ou vontade própria.
Foi assim que Sócrates se comportou. E todos acharam que era um sinal de firmeza e força de carácter. Até quando se livrou do Ministro da Saúde. Até quando fez de Teixeira dos Santos um capacho inominável.

Se Passos não fizer nenhuma remodelação, não é mais do que aquilo que os media gostavam em Sócrates.

Os media tornaram-se em activistas da oposição. Nem sequer se dão ao trabalho de ser sérios e isentos. Perderam completamente a vergonha. Dizem coisas como "Passos não excluiu a hipótese de se demitir se o Tribunal Constitucional chumbar normas do Orçamento". E ele admitiu essa hipótese por acaso?
O facto de não desmentir as lucubrações de um jornalista qualquer faz com que seja plausível que se demita?

O que precisa urgentemente de remodelação são os jornais, as estações de televisão e  de rádio. Precisam de uma boa vassourada e de perceber o que é o conceito de ética. Precisam de entender que existe uma diferença entre jornalismo e "fazer opinião" . Sobretudo quando a opinião vem da cabeça de uns merdas sem qualidade, sem estatuto e sem saber. A cada dia que passa a credibilidade da imprensa afunda-se mais um pouco.

Andamos nesta "onda" de deixar de ter media sérios e ter "fazedores de opinião" ou lá o que pomposamente lhe chamam.
O que são verdadeiramente são manipuladores da realidade. E isso estende-se a quase todo o sector dos media neste país.