Ana Lourenço e a senilidade

A preocupação dos dias que correm parece ser a convergência da esquerda para encontrar uma "solução" para a crise.
A crise no entender deles não é bem a mesma que muitos de nós pensam que é. A crise para eles é não estarem no poder. Tout court.

Tive hoje que gramar o palavroso Vitor Ramalho, irrelevância máxima do regime, sempre debitando um discurso redondo e cheio de trivialidades, a ser entrevistado por Mário Crespo. Gostava que um dia Ramalho me explicasse como é que a nossa "grandiosa" língua portuguesa pode ser uma solução para a crise. Mas este mundo está cheio de parvos e Vitor Ramalho não merece assim tanta atenção.

Minutos depois Ana Lourenço entrevistava Mário Soares. E que maravilha que foi.
Compreendo que ela tenha algum pejo em ser acutilante com o velhinho, mas tanta deferência é muito pouco próprio dum jornalista.

Sabendo nós o que sabemos da sua actuação e palavras em situações semelhantes, porque é que há tanto medo em confrontá-lo com as suas próprias palavras? Certamente ele diria que não era de todo a mesma coisa, mas pelo menos uma citação das suas palavras seria bem ilustrativa da hipocrisia de quem critica todos os dias um governo que apesar de não actuar de forma brilhante, ganha seguramente com a comparação do que fomos tendo com Guterres e Sócrates.

Gostei especialmente como ele deu a volta aios disparates que tinha dito dias antes sobre a chantagem a Portas. Afinal era só ele que presumia que isso era a única possibilidade e nem sequer sabia se era com os submarinos. No entanto no i não se coibiu de associar o ressurgimento do caso na imprensa a essa suposta "chantagem".

Ficámos a saber também que Pacheco Pereira representa 2/3 do PSD. O que não deixa de ser fascinante. Sendo ele um outcast do Partido em constantes querelas com todas as direcções partidárias de que tenho memória. Ora se ele representa 2/3, como raio esses 2/3 votam sempre em direcções que ele não gosta? Mistério.

Soubemos também que o PSD quis entrar para a Internacional Socialista mas o PS não deixou porque já lá estavam eles. Engraçado se pensarmos que por essa altura o PS era bem mais à esquerda e bem mais radical do que é hoje. Pensar que nessa altura o PSD era mais próximo do PS do que é hoje só pode ser motivo de riso.
A tentativa de colocar a lisonja em momentos chave (Portas é inteligente ou invocar a memória de Sá Carmeiro) parece ser para Mário Soares uma forma de conseguir apoios anti Passos quer do PSD quer do PP.

Um bocado patético tudo aquilo. A táctica tranparente, o discurso manipulador pontuado por um sem fim de vulgaridades das quais se destacam coisas como "o governo ten de se ir embora" ou "o apoio de Cavaco ao governo não é bom para ele" etc etc.

No fim de contas o que sobressai é um intelecto em fuga rápida, um discernimento muito aquém do que seria minimamente aceitável e uma jornalista que podia muito bem ser um cãozinho de colo à espera de uma guloseima.

Mas enquanto Soares puder servir a agenda editorial e pessoal de alguns jornalistas não vai faltar quem lhe ponha um microfone na frente. Nunca o confrontando com os seus próprios podres (e são muitíssimos). Isso não se pode fazer ao "senador". Instigá-lo para falar dos podres os outros, isso sim é jornalismo do mais alto quilate. Uma vergonha absoluta, é o que é.

PS: Seguro ficou "chocado" com os números da OCDE. Entre ficar indignado e chocado deve ter uns dias de arrasar. Junte-se a isso a "sensibilidade" e ainda temos o primeiro candidato a 1º ministro que sai do "armário" em plena campanha eleitoral para ver se conquista o voto da comunidade gay. O pobrezinho é realmente uma nulidade.