A tomada de consciência

Tudo isto que estamos a viver seria cómico se não envolvesse coisas tão sérias.

Durante meses a comunicação social andou num afã intriguista e demolidor do Governo.
Não havia um franzir de sobrolho ou uma tosse de Portas que não fosse interpretada como uma clivagem terminal do Governo.

Após terem percebido que Cavaco não lhes ia fazer a vontade (para isso seria preciso um irresponsável como Sampaio) escalaram a descoberta de "sinais" da desagregação da coligação.
A esperança de todos este pirómanos era de que o Governo caísse a partir de dentro já que nem a falta de apoio parlamentar o iria fazer, nem podiam contar com um presidente que fizesse favores ao PS.

E assim andaram a sair à rua a pedir a queda do Governo e a fazer greves e manifs como uma corja de tolinhos que não tem qualquer noção do que lhe pode acontecer.

Num gesto que enfureceu muito boa gente Portas demite-se. E por momentos pensei que houvesse manifestações de júbilo nas ruas porque, segundo dizem, os portugueses estão desejando a mudança.

Nada. Nem um pio. Claro que Jerónimo e mais meia dúzia de tolos fizeram uma "marchinha" no Chiado mas é o que eu dizia, nada se passou.

Na verdade passou-se o inverso. Muitos dos que até ontem pediam a cabeça de Passos e Portas ficaram em pânico. Quando a bolsa desatou a afundar-se e os juros da dívida a 10 aos começaram a subir aperceberam-se do grave que é brincar com este tipo de coisas.
A imprensa mundial de uma forma generalizada olhou para Portugal e disse: "Bem, lá vão estes pelo caminho da Grécia"

E o discurso mudou. O que é duma falta de coerência completamente espantosa. Alguns idiotas (como Basilio Horta) ainda tentam fazer passar a ideia de que podíamos pedir à troyka que esperasse e tal...

Mas a imprensa que até agora andava deliciada com a possibilidade de ver sangue, borrou-se pelas pernas abaixo quando viu o que podia acontecer.
O que não diz muito da inteligência destes comentadores. Muita gente, inclusivamente o presidente cavaco já tinha avisado para os riscos de instabiliade governativa. Especialmente quando fora dos períodos em que é suposto realizarem-se eleições. Aí já toda a gente espera e os calendários são acertados em função disso.
Mas a meio de uma legislatura fazer uma gracinha destas causa uma tempestade que ninguém pode saber onde acaba. Só se sabe que vai haver tempestade.

Felizmente os juros já desceram hoje 20 pontos base em relação ao fecho de ontem. E para isso bastou que o governo não se tivesse desmoronado. Para isso bastou que Passos tivesse dito que as coisas não estão no ponto de catástrofe política.

Aquilo que a oposição e o desesperado Seguro andavam a dizer há meses é que uma coisa como estas era desejável. O que aconteceu é que quando aconteceu as pessoas aperceberam-se que a alternativa é ele. E ficaram em pânico.
E Seria bom que ele ficasse em pânico também. Porque é muito mais fácil ele poder falar sem consequências do que estar no poder e perder a pouca popularidade que tem no espaço de semanas.
Sim, porque o que lhe vai acontecer é que se lá chegar vai ter de implementar medidas de corte na despesa contra as quais se tem manifestado abundantemente.
Seguro é o típico fulano que apenas fala. Idealmente nunca tem de provar com actos a sua verdadeira incapacidade.

Quanto aos comentadores não há muito a dizer. Nem sequer me agrada que agora tenham a minha opinião. Não suporto cretinos que andam meses a pedir uma coisa e que quando ela está na sua frente ficam apavorados e mudam de discurso.

Mais divertido ainda é ver um António Capucho que não faz sequer parte das estruturas do partido e se arrisca a ser expulso por causa da candidatura a Sintra, usar o primeiro pretexto que lhe aparece para pedir a substituição de Passos à frente do PSD.
As bestas revelam-se nestas alturas. É bem patente que o problema dele não é uma questão nacional. É um problema de poder pessoal, de antipatia e de pura falta de vergonha.

A ver vamos, como diz o cego. Podíamos ter passado sem este episódio e sem a falta de sentido de responsabilidade de Portas mas pelo menos isto veio revelar a alguns que o povo português não está assim tão preparado para encarar a hipótese de fazer aquilo que a esquerda tresloucada anda a pedir há 2 anos.

Eu diria que eles continuam sem fazer ideia de como o povo pensa. Talvez o facto de terem a percentagem eleitoral que têm pudesse ser uma boa pista. Mas a formiga tem sempre a tendência para se achar um elefante e esta esquerda não tem mesmo nenhuma noção da sua insignificância.