Oh Rui, agora é que borraste a pintura

No melhor pano cai a nódoa.
De vez em quando aqueles que admiramos fazem ou dizem coisas que nos deixam pouco à vontade.

Há dois casos da minha experiência pessoal que encaixam perfeitamente nesta definição. Com o caso de Rio são 3.

O primeiro é o de Morrissey, antigo vocalista dos Smiths.
Desde o princípio que a onda extremista militante vegetariana de Morrissey me irritava um bocado. Mas essa é das coisas com que se pode viver.
Gostava da música e olhava para o grupo como um conjunto que produzia coisas muito boas (esquecemo-nos de Marr vezes demais, mas era um figura central da qualidade do grupo).
Até ao dia em que vi uma entrevista dele. No pico do sucesso dos Smiths revelava-se como um misógino arrogante e com um ego desmesurado. Afirmando que quando era jovem sonhava escrever coisas "relevantes"... como tinha acabado por acontecer.
Finalmente numa entrevista no programa de Jonathan Ross revelou-se com um completo parvo. Sobranceiro, afirmando na resposta a uma piada de Ross que não tinha nenhuma intenção em ser amigo dele.
Quando alguém diz coisas assim é claramente alguém que dificilmente pode ser admirado. A sua personalidade parece ser verdadeiramente insuportável. Em suma, um parvalhão de alto quilate que fez música muito boa (quando estava nos Smiths...)

O segundo caso é o de um colega de trabalho.
Trabalhou na mesma empresa que eu durante 10 anos. Sempre em áreas diferentes, cruzámo-nos brevemente em algumas ocasiões.
Mas recentemente trabalhámos juntos. A fama de competência e conhecimento que trazia desapareceu no momento em que começou a abrir a boca. A cada pergunta dizia sempre que dominava o assunto apenas para se perceber que isso era só o resultado da insegurança. Resultados - maus.
Muito mais grave do que isso percebeu-se que era uma pessoa dada a "emprenhar de ouvido". O tipo de relacionamento que começou a ter com as outras pessoas do grupo e a ambição de "liderar" acabou por revelá-lo com um elemento a evitar a todo o custo.
A coisa tornou-se tão grave que a uma certa altura todos começaram a desejar-lhe um estrondoso espalhanço. Acabou por acontecer com as piores consequências possíveis. Foi "dispensado" por manifesta inadaptação. Numa leva de downsizing foi dos primeiros a aparecer no topo da lista.
Foi uma enorme decepção. Mas depois de se revelar a única coisa que eu e os outros queríamos era que ele desaparecesse da face da terra.

Rui Rio é o meu terceiro desapontamento.
Toda a gente diz que é um homem sério. Impoluto e incorruptível. Não o conheço pessoalmente mas pelos exemplos de carácter que vai demonstrando parece corresponder à fama.
Mas há outra coisa que se percebe que ele é. E é ser obstinado.
E muitas vezes essa obstinação e a noção de que podemos estar sempre certos faz com que se cometam algumas falhas "chatas".
Na entrevista de ontem Rio parecia zangado com o PSD.
Não só o demonstrou no caso da candidatura de Meneses como creio bem que se alargou para as declarações que fez da ministra.
Uma coisa é dizer que ela não é competente. Coisa que ainda assim estranho, dado o domínio que ela demonstra nas matérias de que falou. Um incompetente não fala assim, senão veja-se a figura dos anteriores inquiridos do PS na mesma comissão. Nem sequer sabem do que estão a falar com um mínimo de detalhe.
A outra bem diferente é alinhar pelo diapasão da "mentira". Só que ele não diz "mentira" porque prefere dizer "não disse toda a verdade".
E o que é "toda a verdade"? É dizer que o antecessor lhe passou toda a informação quando se sabe que a informação que ele lhe passou não era minimamente suficiente ou significativa? É isso a verdade?
Quando a ministra diz que não havia nada sobre os o problema dos swaps, podemos considerar que alguém a dizer que existem é suficiente? Ela sabe que existem. Para que serve uma informação assim?

Vejamos o seguinte cenário.
O governo afirma que vai ter de fazer cortes de 4mil milhões. Já informou toda a gente. Mas a oposição continua a dizer que isso não basta porque precisa de saber detalhes.
Será que o mero conhecimento da necessidade dos cortes por parte de toda a oposição e do povo português permitiria ao Governo chamar a Seguro mentiroso quando ele diz que não sabe sobres os cortes? (quando o que ele quer dizer é que precisa de saber onde vão incidir de forma concreta)
A comparação é perfeitamente legítima. De nada serve dizer que há swaps com perdas potenciais elevadas quando o que se precisa saber é o detalhe mais ínfimo de cada um deles. Saber que existem e que podem dar "chatice" é estar informado? Só se for para o PS, PCP e Bloco que parecem achar que os actos de gestão são meros gestos simbólicos e alertas à navegação. Para quem tem de resolver os problemas certamente que não chega.

Rui Rio já muitas vezes fez o mesmo. ele é político, Já distorceu e omitiu informação para obter ganhos políticos. Não se cansou de fazer isso na Câmara do Porto.
Como dizem os ingleses he has an axe to grind com o PSD. O que não tem o direito é de denegrir pessoalmente pessoas que no seu entender corporizam essa mal estar com o PSD.
O serviço que ele faz ao PSD é péssimo. Se ele é um homem de convicções fortes como é que prefere dar o ouro ao bandido que ele tanto criticou pela péssima gestão do país e da sua própria câmara.
Porque é que se junta ao coro dos que demagogicamente tentam destruir o carácter da ministra das finanças? O que é que ele, o partido, o governo ou o país ganham com isso? Tempo de mexericos na TV?

Por vezes a cólera tolda o raciocínio. E creio que numa pessoa como Rio esse tipo de reacção está sempre a um pequeno passo de distância.
Mas como qualquer militante, e sobretudo no caso dos mais proeminentes como é o seu caso, há sempre a hipótese de concorrer à liderança do partido, ir a eleições e rodear-se dos melhores num governo a que presida.
Porque não o faz? Eu bem gostaria de que o presidente do PSD fosse uma pessoa credível, séria e que usasse esse "mau feitio" para atalhar a direito nas coisas claramente erradas deste país.
Será que enfrentaria lobbies poderosos com a mesma bravata com que se atira a Menezes e à ministra?
Sinceramente não acho. Porque se estivesse em causa a sua própria imagem e sobrevivência política teria muito mais cuidado e seria muito mais diplomático.

Também por estas coisas se mede o nível de um líder. De Rebelo de Sousa já vimos a amostra e acho que ninguém quer repetir a dose. De Capucho, MFL e outros que foram passando pelo poder creio que estamos conversados.
Só faltava mesmo Rio revelar-se como um personagem com questões pessoais a acertar. Preferindo ajudar o PS e toda a corja de malfeitores encapotados que tentam crucificar a ministra para afastar de si a responsabilidade dos actos altamente danosos que temos visto.

BTW, na qualidade de Presidente da Câmara do Porto estava no conselho de Administração da Metro do Porto. Quando é que ele manifestou o seu desacordo por este tipo de contratos que visavam simplesmente empurrar os problemas par debaixo do tapete?
Assinou de cruz? Não foi informado? Não sabia, como tantos outros, onde a Metro do porto se estava a meter?
É este um líder sério, impoluto e competente?
Se calhar vou ter de rever a ideia que tenho de Rio que afinal não passa da vox populi.